Tem 47 anos, é madeirense “de gema”, embora com um sotaque discreto, e investigador principal do 2D4H –  Dados Secundários para Investigação em Cuidados de Saúde, grupo de investigação da Linha Temática 3, do CINTESIS, desde 2018.

Viveu na Madeira até entrar no curso de Matemática Aplicada, ramo de Ciência de Computadores, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), aos 18 anos. À licenciatura seguiu-se o mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na área de Informática Industrial na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Corria o ano de 1995 quando viu num jornal uma vaga para monitor de Bioestatística para o curso de Ciências da Nutrição, de que era então regente Altamiro da Costa Pereira. Concorreu e ficou a dar aulas. Em 1998, assumiu o lugar de assistente estagiário e, depois, de assistente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

“Havia várias incógnitas sobre o futuro. Ser professor no ensino secundário não estava nos planos, e em termos empresariais os principais empregadores na área de ciência de computadores estavam na região de Lisboa. Surgiu a oportunidade de dar aulas no ensino superior. Era uma área que me agradava. Acabei por ficar até hoje”, diz o matemático / cientista de computadores, que é Professor Auxiliar do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde (MEDCIDS) da FMUP, onde já foi diretor do Curso de Mestrado em Informática Médica.

Em 2007, doutorou-se em Ciências Empresariais pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), especializou-se em áreas como “machine learning” e “data mining”, em particular com a aplicação em dados hospitalares. É, desde há vários anos, investigador integrado do CINTESIS, tendo participado na criação e assumido, em 2018, a liderança do grupo de investigação 2D4H.

Composto por uma equipa multidisciplinar de especialistas em Ciências da Computação, Engenharia, Matemática, Economia e Medicina, o grupo “dá cartas” em áreas como a reutilização de dados secundários na investigação de saúde (com vários trabalhos publicados, por exemplo, relacionados com a utilização de dados de internamentos hospitalares), a avaliação da performance dos serviços, a qualidade dos dados, a codificação clínica e o desenvolvimento de ferramentas inovadoras para deteção e se possível correção de problemas.

Em Portugal, diz, existe ainda “alguma variabilidade na qualidade dos dados recolhidos”, que pode variar com vários fatores, como a altura em que a recolha foi feita, o hospital que está a codificar os dados e até com a especialidade. Estas discrepâncias não o preocupam. O mais importante é saber que elas podem existir.

“Não podemos achar que os números dizem sempre a verdade. A área da saúde é especialmente complexa, com uso de dados não estruturados, por exemplo de texto livre e de imagens em várias circunstâncias. Mas não diria que estamos pior do que noutros países. Pelo contrário. No nosso país, por exemplo no contexto hospitalar, temos médicos codificadores, que é uma realidade diferente da de outros países, potencialmente melhor. No entanto, estes codificadores precisam de mais apoio, nomeadamente de ferramentas que possam facilitar as tarefas de codificação e que possam despender mais tempo à auditoria da qualidade dos dados em tempo real. Estas ferramentas, quer seja para o apoio à codificação ou à auditoria, são muito importantes para auxiliar os médicos codificadores na identificação e correção de eventuais problemas no registo dos dados. Esta tem sido uma das nossas áreas de trabalho”, indica.

Ao longo dos últimos anos, Alberto Freitas tem estado envolvido em vários projetos de investigação, como o CuteHeart – Comparative use of techologies for coronary heart disease, o HR-QoD – Quality of data (outliers, inconsistencies and errors), o NanoSTIMA – Macro-to-Nano Human Sensing: Towards Integrated Multimodal Health Monitoring and Analytics, o ActiveAdvice – Decision Support Solutions for Independent Living using an Intelligent AAL Product and Service Cloud e o 1st.IndiQare – Quality indicators in primary health care: validation and implementation of quality indicators as an assessment and comparison tool.

É também investigador do projeto AIRDOC – Aplicação móvel Inteligente para suporte individualizado e monitorização da função e sons Respiratórios de Doentes Obstrutivos Crónicos, que junta o CINTESIS, a FMUP, a MEDIDA – Serviços de Medicina, Educação, Investigação, Desenvolvimento e Avaliação, Lda.  e o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), bem como do projeto PHE – Personal Health Empowerment, no âmbito do projeto europeu ITEA, que inclui parceiros de vários países, designadamente Portugal, Espanha, Turquia e Bélgica.

Com mais de 100 trabalhos publicados, acredita que ainda há muito trabalho pela frente graças a “um imenso manancial de dados” que existe no nosso país, dados esses que ainda estão “muito subaproveitados” e que contêm certamente informação valiosa para melhorar a saúde dos portugueses.

Ambição a 1 ano?

Já estou na FMUP há algum tempo e gostava de poder agregar-me. Se for possível dentro de um ano, seria ótimo. Em termos profissionais, há vários alunos de doutoramento que estou a acompanhar. Em abril, doutorou-se o meu primeiro aluno.

Ambição a 10 anos?

Não faço ideia. Isso é uma incógnita. Em 10 anos pode haver muitas mudanças na estrutura e na organização da FMUP e do CINTESIS. O CINTESIS tem crescido bastante e a avaliação da FCT, em maio, é um marco importante. Olhando para trás, percebemos que é muito difícil prever o futuro, mesmo sendo da área das ciências exatas. É claro que espero continuar a fazer investigação e quero ter um grupo cada vez mais forte, nomeadamente na qualidade dos dados, “data governance”, “business intelligence”, em diferentes aspetos metodológicos e também na área da inteligência artificial. Não sei se será daqui a 10 anos ou daqui a 20 anos, mas a inteligência artificial fará com que haja uma mudança de paradigmas a vários níveis, quer na investigação, quer no ensino, e nós vamos estar envolvidos nisso, com certeza.

Que vida para além da investigação?

Os tempos livres não são muitos, mas, quando os tenho, gosto de praticar desporto, em particular correr, sozinho ou com amigos; já corro há alguns anos e fiz já inclusive algumas maratonas (espero correr novamente a do Porto em novembro). Também gosto de ler, de passear e viajar, de música, de cinema ou séries (com uma lista cada vez mais extensa para ver), e claro também de estar com a família e com amigos.