Testar a alergia às penicilinas pode permitir poupanças substanciais, da ordem dos 282 euros por doente internado nos hospitais portugueses e até 2103 euros em contexto de ambulatório. Considerando estimativas conservadoras, tal implicaria uma poupança estimada em 8.4 milhões de euros por ano só em contexto de internamento.

As conclusões do estudo de avaliação económica realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), nomeadamente do MEDCIDS – Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde), e do CINTESIS vêm sustentar a realização generalizada de testes em doentes rotulados como alérgicos às penicilinas, classe que inclui antibióticos de uso comum, como a amoxicilina.

Os cientistas contabilizaram os custos, simulando e comparando duas estratégias distintas. No primeiro cenário, os doentes eram submetidos a testes de diagnóstico de alergia às penicilinas e apenas os que tinham um teste positivo eram tratados como alérgicos. No segundo cenário, os doentes não eram submetidos a este tipo de testes e eram tratados como alérgicos, isto é, não recebiam penicilinas, mas sim antibióticos alternativos.

Foram consideradas as despesas realizadas com os testes, mas também com o internamento ou idas ao hospital e com os antibióticos utilizados, que tendem a ser mais dispendiosos nos doentes rotulados como alérgicos às penicilinas.

De acordo com Bernardo Sousa Pinto, primeiro autor do estudo publicado no Clinical Infectious Diseases, a realização de testes de alergia às penicilinas estava efetivamente associada a menos custos do que a sua não realização.

“Rótulo de alergia associa-se também a maior risco de infeções”

Um estudo realizado anteriormente, e que teve também Bernardo Sousa Pinto como primeiro autor, mostrava já que um correto diagnóstico de alergia às penicilinas permitiria uma diminuição de 3.863 dias de internamento.

Embora 5% a 10% dos doentes refiram ter alergia às penicilinas, a realização de testes específicos permite afastar esse rótulo em 90% dos casos, permitindo o tratamento com antibióticos mais baratos, mas também mais adequados e com melhores resultados clínicos.

De facto, como salientam os autores, “não estão apenas em causa resultados económicos, mas também resultados clínicos, uma vez que o rótulo de alergia às penicilinas se associa a um maior risco de infeções associadas aos cuidados de saúde”.

A equipa, coordenada por João Fonseca, contou com a participação de Ana Margarida Pereira, de Luís Filipe Azevedo, de Luís Delgado (FMUP) e de cientistas do Massachusetts General Hospital, da Harvard Medical School e do San Diego Medical Center, nos Estados Unidos da América.