Sabe no que consiste o suporte básico de vida? Seria capaz de o executar em caso de emergência? Quanto lhe falta para poder salvar uma vida? Investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde quiseram avaliar o conhecimento do público geral nesta matéria.

De uma maneira global, quase 80% dos indivíduos admite que tem poucos conhecimentos ou conhecimentos residuais de suporte básico de vida, sendo que apenas 20% reportam um conhecimento adequado. Na verdade, se considerarmos o conhecimento geral, verifica-se que apenas 15% das pessoas respondem corretamente a 70% ou mais das questões colocadas e apenas 1,8% acertam em todas as respostas. Cerca de 5% não sabem qual era o número de emergência europeu (112) e não sabem explicar quando e onde o suporte básico de vida deve ser aplicado.

De acordo com este trabalho de Carla Sá Couto e Abel Nicolau, publicado na Acta Médica Portuguesa, o nível de conhecimento do público geral piora quando as questões são de natureza técnica. Embora 55% das pessoas saibam onde devem posicionar as mãos (“centro do peito”), apenas 13,4% têm noção da profundidade das compressões (cinco a seis centímetros) e só 20% sabem ainda a frequência das compressões (100 a 120 compressões por minuto). Quanto às fontes, cerca de 46% das pessoas têm conhecimentos sobre suporte básico de vida através de “meios informais”, como brochuras, televisão ou internet.

Os autores alertam que os conhecimentos nesta área são piores nas pessoas com mais de 45 anos de idade e melhores no grupo etário mais jovem, o que, dizem, poderá ser parcialmente explicado pela integração do suporte básico de vida no currículo do 3.º ciclo do ensino básico das escolas portuguesas a partir de 2013, bem como pela implementação de medidas esporádicas, como os “mass-training”.

Praticamente a totalidade dos participantes entende que o treino em suporte básico de vida deveria ser incluído no contexto académico e profissional e cerca de 76% consideram que o treino nesta área deveria ser obrigatório, repetindo-se anualmente (24%) ou bianualmente (33%).

Nesta amostra, composta 663 pessoas (a maioria entre 18 e 25 anos, do sexo feminino e estudante no ensino superior), a percentagem que já frequentou formações/workshops de SBV é bastante elevada (43%), contrastando com outros estudos realizados em Portugal, que apontam para valores próximos dos 18%. Já na Austrália, essa percentagem ronda os 78%.

Este estudo vem, assim, “reforçar a necessidade de treino prático regular de suporte básico de vida, idealmente numa fase precoce e nos locais de trabalho/estudo”, de preferência com métodos inovadores e efetivos no que respeita a aspetos técnicos e à retenção do conhecimento, como é o caso do CPR – Personal Trainer (cprpt.med.up.pt), um sistema acessível, de treino de reanimação cardiorrespiratória, com “feedback” automatizado, desenvolvido por este grupo no âmbito do CINTESIS e do Centro de Simulação Biomédica da Faculdade de Medicina Universidade do Porto.

Na Europa, a paragem cardíaca é uma das principais causas de morte, afetando 55 a 113 habitantes por 100 mil/ano. De acordo com o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), entre 2013 e 2014 ocorreram mais de 23 mil paragens cardiorrespiratórias pré-hospitalares, sendo que, apenas em 15% dos casos, foram realizadas manobras de suporte básico de vida antes da chegada de ajuda especializada. Em Portugal, a taxa de sobrevivência neste período é de 4%, abaixo de outros países europeus, como a Holanda (21%) e a Noruega (25%).