A asma não parece constituir um fator de risco para COVID-19 em crianças, mesmo nas que também são obesas. Ao contrário do que se julgava no início da pandemia, a asma alérgica pode até proteger contra a infeção por SARS-CoV-2.

A conclusão é de um estudo de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health.

Estes dados, que resultam de uma revisão de artigos científicos publicados a nível mundial, permitem respirar de alívio. De facto, os estudos realizados até agora indicam que as crianças com asma, bem como as que sofrem de atopia (mais predispostas a alergias), não são mais afetadas pela COVID-19.

“Questiona-se se a asma será, por si só, um fator protetor contra a COVID-19. Existem algumas explicações possíveis para que assim seja, como a expressão reduzida de recetores para o vírus SARS-CoV-2, o papel protetor dos eosinófilos (células do sistema imune implicadas na asma) presentes nas vias aéreas e as propriedades antivirais e imunomoduladoras da medicação inalada (corticoides)”, explicam José Laerte Boechat e Luís Delgado, investigadores do CINTESIS e da FMUP.

Esta aparente proteção das crianças asmáticas contra o novo coronavírus acontece mesmo em crianças que são simultaneamente obesas, embora a obesidade seja considerada um fator de risco independente para a infeção nas diversas faixas etárias.

Crianças sem sintomas podem ser vetores de transmissão do coronavírus

Mas nem tudo são boas notícias. Se é verdade que as crianças, com ou sem asma, não estão em maior risco e têm menos tendência a apresentar sintomas, também é verdade que continuam a transmitir o vírus, mesmo quando são assintomáticas.

Este risco já está a fazer soar as campainhas em vários países, sobretudo quando se pondera o regresso às aulas presenciais. “O regresso às escolas levanta sérias preocupações, pois as crianças sem sintomas podem funcionar como vetores de disseminação da doença na escola e na família”, alertam os investigadores.

Embora o assunto seja controverso, estes especialistas defendem que a identificação de crianças assintomáticas deve ser parte da estratégia contra a COVID-19, através de ações de rastreio, nomeadamente nos casos de surtos.

No que diz respeito às crianças com asma, consideram que o foco deve estar no controlo da doença, promoção da adesão à medicação e na estratificação do risco individual. “Só assim as crianças com asma poderão regressar às escolas de forma segura”, dizem.

Já as crianças com asma grave ou com asma não controlada devem continuar a ser consideradas como um grupo de risco para o desenvolvimento de formas graves de COVID-19.

Os investigadores afirmam ainda que a vacinação das crianças contra a SARS-CoV-2 deverá ser “um passo crítico” no combate à pandemia, quer para sua própria proteção, quer para suportar a imunidade de grupo. Para já, recorde-se, a maior parte das vacinas não incluiu crianças nos ensaios realizados.