Um grupo de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) avisa que é urgente acelerar a notificação das reações adversas às vacinas contra a COVID-19.

Num estudo publicado no International Journal of Clinical Pharmacy, os cientistas alertam que, durante a pandemia, a vigilância das reações adversas aos medicamentos (RAM) deve ser “mais ativa” e a informação deve ser prestada “em tempo real”, de modo a suportar as decisões das autoridades de saúde.

Por isso, apelam aos serviços de urgência hospitalares e outros serviços de atendimento urgente para a necessidade de notificarem “de imediato” qualquer suspeita de reação adversa às vacinas.

“A necessidade de conhecimento permanente sobre as vacinas é uma absoluta prioridade. O modelo tradicional, assente sobretudo nas notificações espontâneas (farmacovigilância passiva), não é adequado ao contexto atual”, dizem os investigadores da FMUP/CINTESIS, que também fazem parte da Unidade de Farmacovigilância do Porto (UFPorto).

Só no primeiro semestre de 2021, UFPorto recebeu 2248 notificações espontâneas de suspeitas de reações adversas, das quais 2121 são relativas às vacinas contra a COVID-19. Estes números são consideravelmente superiores ao número de suspeitas de RAM em igual período de anos anteriores (536, em 2019, e 234, em 2020).

Conforme explicam, “a maioria das RAM notificadas a nível nacional enquadra-se no perfil comum a qualquer vacina, que inclui reações no local da injeção ou reações sistémicas como febre, dor de cabeça ou dor muscular. Estas reações foram descritas ainda em fase de ensaios clínicos e desaparecem em horas ou dias, sem necessidade de intervenção médica e sem sequelas”.

No entanto, subsistem muitas dúvidas e questões, como, por exemplo, qual o risco de reações adversas à vacina em doentes que tiveram COVID-19, qual é a gravidade da infeção nos doentes vacinados, ou, no caso de reações adversas na primeira toma, qual o risco de recorrência e quais as recomendações relativamente à segunda toma.

Os investigadores recomendam a implementação de várias medidas, incluindo o desenvolvimento de programas de farmacovigilância ativa, a intensificação da monitorização das populações mais vulneráveis (nomeadamente, mulheres grávidas, crianças e adolescentes, idosos, indivíduos imunocomprometidos, ou com histórico de alergias), a realização de campanhas de sensibilização e um aprofundamento da comunicação com profissionais de saúde, doentes e instituições.

Além disso, dizem que “é urgente dotar as unidades de mais meios logísticos e humanos que possam avançar com campanhas de sensibilização da população e profissionais para a necessidade de notificação, mas que preencham os necessários recursos para processar o aumento de informação”.

Tendo como primeiro autor Renato Ferreira da Silva (FMUP/CINTESIS/UFPorto), este estudo foi realizado em coautoria com Inês Ribeiro Vaz (FMUP/CINTESIS/UFPorto), Manuela Morato (LAQV/REQUIMTE) e Jorge Polónia (FMUP/CINTESIS e coordenador da UFPorto).