Cristina Granja é investigadora principal do CriticalMed, médica com especialidade em Anestesia e em Medicina Intensiva, além de competência em Emergência, chefe de serviço hospitalar, professora catedrática e mãe. Chegou ao topo da carreira, mas continua a ser exigente, a começar por si própria, ciosa da sua equipa, de que se orgulha, e completamente devotada aos seus doentes.

Quis ser engenheira agrónoma porque adorava o contacto com a natureza, mas o destino conduziu-a à medicina, em 1978. “Só havia Agronomia em Lisboa e mais de metade da minha turma foi para Medicina. Um dia, uma amiga minha ligou-me e perguntou-se se queria que me inscrevesse. Disse que sim”, lembra.

Fez o curso na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, concluiu o internato em Anestesia em 1990 e esteve na Urgência e nos Cuidados Intensivos do Hospital de São João até 1997, ano em que rumou para o Hospital de Pedro Hispano, em Matosinhos. Assumiu a responsabilidade pelos Cuidados Intensivos Médicos em 2005, no mesmo ano em que fez o doutoramento sobre qualidade de vida e sequelas pós-cuidados intensivos nos sobreviventes. “Foi uma etapa da minha vida interessantíssima, um período de ouro”, confessa.

Deixou o Hospital em 2012. Foi um ano de viragem na sua vida, o único em que não fez Medicina Intensiva e não teve de enfrentar a morte dos seus doentes e a dor dos familiares, que admite ser um “peso enorme”. Precisamente no dia em que fez as suas provas de agregação, recebeu o convite para ir para o Hospital de Faro – Centro Hospitalar do Algarve. Ainda foi a uma entrevista num hospital de Inglaterra, onde a esperava um contrato financeiramente irrecusável. Preferiu ficar. “Tinha a minha história em Portugal”, justifica, convencida também pelo clima ameno e pela receção calorosa que teve à chegada ao Algarve.

Em 2013, assumiu a direção do Serviço de Medicina Intensiva, que mantém até hoje, cargo a que se juntaram o de Professora Associada e, finalmente, o de Professora Catedrática da Universidade do Algarve (UAlg). “Gosto imenso de estar no Algarve. Acho que lá sou mais útil porque há imensa falta de médicos. Mas foi a Ryanair que fez o Algarve parte do país, não foi o Governo nem uma autarquia”.

É investigadora do CINTESIS desde a primeira hora, coordenando o grupo CriticalMed, cujo número de membros, sobretudo alunos de doutoramento do PDICSS, tem vindo a aumentar. É uma mão cheia de jovens que investigam em áreas tão diversas como Infeção e Sépsis, Ética no fim de vida ou efeitos da sedação em contexto da Anestesia. Em curso está também um estudo multicêntrico sobre a disfunção cognitiva provocada pela sedação nos doentes, com base numa consulta de seguimento após alta dos cuidados intensivos implementada pela própria, à semelhança do que já havia feito em Matosinhos.

É autora de mais de 40 artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras com mais de 1.700 citações com foco na área da emergência intra-hospitalar e follow-up do doente crítico. Para Cristina Granja, a investigação “ajuda a perceber o que o resto do mundo está a fazer e a refletir sobre o que podemos fazer melhor pelos doentes e pela organização dos serviços, mas só faz sentido se for para melhorar a prática clínica e não para fazer currículo ou para subir na carreira. A minha única ambição é tratar bem os doentes”.

Ambição a 1 ano

Tenho de levar os meus alunos de doutoramento até ao fim. Não os vou deixar de maneira nenhuma. A partir de junho, serei também editora chefe da Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. É uma forma de retribuir a homenagem que a Sociedade Portuguesa de Anestesiologia me fez, em 2015.

Ambição a 10 anos

Só faço projetos a 1 ano e já é arriscado. Acho que o mundo está demasiado volátil. Não faço a mínima ideia do que vou fazer daqui a 10 anos, mas acho que vou reformar-me e tenho alguma vontade de o fazer. Tenho vontade de tomar conta dos meus netos, quando eles chegarem (risos).

Vida para além da medicina e da investigação

Os fins de semana são para estar com a família e com os amigos. Vou muito à Casa da Música. Fui proprietária de uma escola de música e os meus filhos tocam piano e violino. No Algarve, descobri a Ria Formosa, onde faço canoagem e vela, que era a minha paixão enquanto estudante.