Cerca de metade dos cuidadores de pessoas com demência apresentam níveis significativos de desgaste psicológico, com sintomas elevados de ansiedade, depressão, comportamentos obsessivos e compulsivos, hostilidade, sensibilidade interpessoal e ideação paranoide, entre outros.

A conclusão é de um estudo publicado no Perspectives in Psychiatric Care, da autoria de Wilson Abreu e Carlos Sequeira, investigadores do grupo NursID, do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e docentes da ESEP – Escola Superior de Enfermagem do Porto.

Na população estudada, 108 pessoas com demência e seus cuidadores familiares, com residência no distrito do Porto, observou-se uma correlação significativa entre os sintomas de desgaste psicológico manifestados pelos próprios cuidadores, cuja média de idade era de 60,7 anos, e o nível de dependência dos doentes a seu cuidado, sendo que, destes, 85% eram mulheres, 55% tinham uma demência grave e 46% estavam muito ou totalmente dependentes.

Segundo os autores, a carga de trabalho, a falta de conhecimento sobre a doença e o medo da sua progressão inevitável são alguns dos fatores que podem explicar os sintomas registados, nomeadamente a chamada ansiedade fóbica.

“Os cuidadores sentem que foram deixados sozinhos, sem ajuda. Os profissionais de saúde devem discutir ações futuras e fornecer informação sobre serviços disponíveis e sobre a progressão da doença. É crucial que os sistemas de saúde sejam capazes de providenciar cuidados integrados e cuidados paliativos, nomeadamente a nível domiciliário”, pode ler-se.

O estudo propõe que os enfermeiros tenham um importante papel neste processo, através do desenvolvimento e implementação de cuidados às pessoas com demência avançada e de suporte aos seus cuidadores, incluindo programas psicoeducacionais e intervenções psicossociais focadas na cognição, na abordagem do “stress”, na comunicação, na espiritualidade e no conforto.

Este tipo de programas na área da Saúde Mental e da Psiquiatria deverá ter o condão de aliviar o desgaste psicológico dos cuidadores, com efeitos positivos na sua saúde, na sua capacidade de cuidar e na própria qualidade dos cuidados que prestam aos doentes com demência a seu cargo.

A demência é considerada uma síndrome complexa associada às populações idosas, sendo progressiva e levando, em última instância, à morte. Caracteriza-se por distúrbios em várias funções, incluindo a memória, a cognição, a orientação, a compreensão, a linguagem, a capacidade de aprendizagem e de julgamento. Estima-se que, em todo o mundo, mais de 47 milhões de pessoas vivam com demência. Prevê-se que esse número aumente para 75 milhões de pessoas em 2030 e para 135 milhões em 2050.