Os cuidadores familiares de doentes renais em hemodiálise reportam um aumento do sofrimento emocional durante a pandemia por COVID-19, em particular durante o confinamento.

Um estudo coordenado por Daniela Figueiredo, investigadora do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde na Universidade de Aveiro – Escola Superior de Saúde, publicado no Scandinavian Journal of Caring Sciences, revela que estes cuidadores se sentem mais sobrecarregados e com maior dificuldade em dar resposta às exigências da tarefa de cuidar.

As razões apresentadas incluem o aumento das responsabilidades assumidas nos cuidados prestados e a diminuição do apoio de outros familiares, mas também o sentimento de insegurança e o medo de ser infetado pelo vírus SARS-CoV-2.

“O confinamento aumentou o número de tarefas que os cuidadores tiveram de assumir para minimizar a exposição dos doentes ao vírus, tais como ir às compras e à farmácia ou assegurar o transporte de e para os centros de diálise”, referem os autores do estudo.

Se o medo de ser infetado ou a insegurança em relação ao futuro são comuns à população em geral, estes cuidadores acumulam outros fatores que os tornam mais suscetíveis a um declínio da sua saúde mental e qualidade de vida durante a pandemia.

Desde logo, salienta-se a preocupação de que o paciente em diálise pudesse ser infetado pelo novo coronavírus, uma vez que a realização dos tratamentos dialíticos dificulta o cumprimento das medidas de proteção como, por exemplo, o distanciamento físico.

“As pessoas com doença renal crónica em hemodiálise não podem ficar em casa durante o confinamento, para se protegerem do SARS-CoV-2. Estes doentes precisam de tratamento de substituição da função renal para sobreviverem, o que os obriga a deslocarem-se a um centro para fazerem diálise pelo menos três vezes por semana, durante quatro a cinco hora por dia”, explicam os investigadores.

Acresce que os doentes renais crónicos em tratamento dialítico são “excecionalmente vulneráveis à COVID-19, devido à combinação de fatores como a idade avançada e outras doenças associadas, além de um sistema imunitário menos eficiente”.

Os cuidadores reportaram ainda a necessidade de mais informação acerca das medidas adotadas pelos centros de diálise para fazerem face à pandemia, prevenirem a propagação do vírus e garantirem a segurança dos doentes.

Todos estes dados sugerem que é preciso prestar mais atenção aos cuidadores familiares para diminuir a sua sobrecarga e para melhorar a sua saúde mental, nomeadamente através da identificação daqueles que precisam de mais apoio. De acordo com outros estudos, cerca de um quarto destes cuidadores apresentavam já sintomas de depressão, problemas de sono e baixa qualidade de vida.

Foi com esse objetivo, em parte, que já decorreu, entre março e abril, a primeira edição dos programas psicoeducativos online destinados a apoiar doentes renais em hemodiálise e seus familiares, no âmbito do projeto “Together We Stand”.

Depois do sucesso desta edição inaugural, está prevista para o início de junho a abertura de uma segunda edição. As inscrições, para esta nova edição, já se encontram abertas, na página no projeto Together We Stand.

O projeto é desenvolvido no âmbito do CINTESIS/Universidade de Aveiro, em parceria com o REQUIMTE e a Universidade do Porto e com financiamento do FEDER, através do COMPETE2020 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

 

Foto: Vlada Karpovich