A adesão à Dieta Mediterrânica melhora a microbiota intestinal (vulgarmente designada flora intestinal) e permite um melhor controlo metabólico em doentes com diabetes tipo 2, indica um estudo realizado por investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e NOVA Medical School – Faculdade de Ciências Médicas, sob coordenação de Conceição Calhau.

Os resultados do estudo “MEDBIOME – Efeito da Dieta Mediterrânica no Microbioma de Diabéticos Tipo 2”, publicados na revista Nutrients, mostram que os diabéticos que aderem a este padrão alimentar têm uma microbiota intestinal mais rica, com maior número de espécies de bactérias, o que se traduz, por sua vez, num melhor controlo glicémico, ou seja, dos níveis de açúcar no sangue.

A Dieta Mediterrânica é caracterizada por um elevado consumo de produtos de origem vegetal (hortícolas, fruta, cereais integrais e frutos gordos), consumo baixo a moderado de carnes, utilização de ervas aromáticas e especiarias em substituição do sal e uso de azeite como principal fonte de gordura. Este padrão alimentar privilegia alimentos sazonais e locais e encoraja outros hábitos saudáveis, como a prática de atividade física.

No âmbito deste estudo, os investigadores seguiram pessoas com diabetes tipo 2, entre os 47 e os 77 anos de idade, ao longo de 12 semanas. Foi implementado um plano alimentar individualizado com base na Dieta Mediterrânica e foram analisados vários parâmetros, incluindo a composição da microbiota intestinal, o peso e o controlo glicémico.

O objetivo era, sobretudo, avaliar o papel da modulação da microbiota em diabéticos tipo 2, através da implementação de uma intervenção nutricional assente num padrão alimentar que é já recomendado no tratamento desta doença.

A análise realizada aponta para uma maior riqueza e qualidade das bactérias do intestino (maior rácio Prevotella/Bacteroides e menor rácio Firmicutes/Bacteroidetes) ao fim de apenas quatro semanas e um melhor controlo glicémico entre os participantes ao fim de 12 semanas como resultado de um aumento da adesão à Dieta Mediterrânica.

De acordo com a equipa, “a alteração da microbiota intestinal parece preceder a alteração dos marcadores da diabetes”, nomeadamente da hemoglobina glicada (HbA1c), um indicador dos níveis de glicose no sangue.

Nesse sentido, “a composição da microbiota intestinal pode vir a ser utilizada como novo biomarcador da eficácia da intervenção nutricional adotada e do controlo da diabetes”, sublinha Cláudia Marques, investigadora do CINTESIS, professora da NOVA Medical School e cofundadora da YourBiome.

Pelo contrário, “uma microbiota intestinal pobre” pode alertar para a ineficácia da intervenção nutricional escolhida, permitindo redefinir a estratégia, de uma forma mais rápida e eficiente.

Assim, este estudo vem reforçar a importância da intervenção nutricional e, em particular, da Dieta Mediterrânica, no controlo da diabetes, sublinhando o papel determinante do apoio nutricional dado aos doentes diabéticos, em particular aos que são seguidos nos Cuidados de Saúde Primários (CSP).

“Os resultados deste trabalho permitem concluir não só que a análise da microbiota intestinal pode ser útil na monitorização da doença, mas também que a microbiota intestinal constitui um importante alvo terapêutico na diabetes, isto é, que o tratamento da diabetes pode passar por melhorarmos o tipo de bactérias que temos no nosso intestino”, resumem os investigadores.

O artigo, assinado por Shámila Ismael, Marta Silvestre, João Araújo, Diogo Pestana, Ana Faria, Diana Teixeira, Cláudia Marques e Conceição Calhau, do CINTESIS/NOVA Medical School – Faculdade de Ciências Médicas, entre outros investigadores, resulta de um projeto premiado, em 2019, com uma bolsa da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD).