Elisa Keating é investigadora principal do ProNutri, grupo de investigação multidisciplinar do CINTESIS que reúne diferentes instituições do país com o objetivo de identificar os mecanismos e as causas da progressão de doenças crónicas em que a alimentação tem um papel significativo.

Nasceu em 1977, em Cedofeita, na cidade do Porto. O apelido Keating vem do bisavô paterno, de nacionalidade irlandesa. A família é uma inspiração constante. Sente-se privilegiada por ter “uma estrutura familiar enorme e muito sólida”, assente num núcleo bem firmado pelo marido e filhos, complementado, pelos pais (o pai é médico e a mãe, professora), irmãos, sobrinhos, tios, primos e, no topo da cadeia, pela avó, de 102 anos, que lhe dão sentido de pertença e tranquilidade.

Licenciou-se em Bioquímica pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) em 1999. Ainda fez Erasmus em Inglaterra no último ano do curso, mas quis regressar às suas raízes. Ainda não tinha acabado a licenciatura quando começou a dar aulas, como monitora, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), onde é atualmente Professora Auxiliar.

Sempre quis conciliar a docência com a investigação na área da saúde. A oportunidade chegou em 2000, com uma bolsa de investigação sobre transportes transmembranares na placenta humana, que acabou por ser o tema do seu doutoramento em Biologia Humana, concluído em 2008, sob orientação de Fátima Martel e Isabel Azevedo.

“Considero que a investigação científica dá coesão ao conhecimento que o professor transmite aos alunos e que o exercício da docência treina o investigador a transmitir o conhecimento que cria. A investigação e a docência são por isso muito interdependentes. Contudo, nem sempre é fácil conseguir este ideal”, afirma.

Foi bolseira de pós-doc na FMUP, entre 2008 e 2013, e investigadora na Universidade Católica Portuguesa, entre 2013 e 2015, na área do metabolismo e da programação fetal da doença no adulto.

Após este período integrou a equipa de Conceição Calhau, então líder do ProNutri, tendo ingressado no CINTESIS e feito parte da equipa do IoGeneration, desenvolvido no âmbito desta Unidade e financiado em mais de 400 mil euros pelos EEA Grants. O projeto foi responsável pela caracterização do estado do iodo em crianças do norte de Portugal.

Atualmente, Elisa Keating está à frente do IoMum, projeto do CINTESIS que pretende avaliar o estado de iodo nas grávidas portuguesas. O estudo está a decorrer no Centro Hospitalar de São João e será em breve alargado a outras regiões do país.

Ambição a 1 ano?

Em Portugal, existe um nevoeiro relativamente ao estado do iodo nas grávidas que é preciso dissipar. Há uma orientação da Direção-Geral da Saúde, de 2013, para fazer suplementação de iodo na gravidez, mas não sabemos o que mudou desde então. Não sabemos por exemplo, qual o impacto da suplementação iodada ao longo da gravidez. Sabemos que há médicos que recomendam e outros que têm receio de generalizar esta recomendação, apesar de reconhecerem que o iodo é indispensável para o desenvolvimento do bebé, em especial o desenvolvimento cognitivo. Continuamos a não entender como é que, dada a urgência desta avaliação, não temos tido financiamento. Continuamos a tentar, mas estamos a trabalhar, mesmo que o financiamento tarde a chegar.

Ambição a 10 anos?

O ProNutri está em condições ideais para estudar a relação entre a Nutrição e o desenvolvimento de patologias em janelas temporais críticas da vida porque junta investigadores ligados à fase pré-natal/gravidez, à idade pediátrica e ao envelhecimento. O meu grande desígnio é caminhar no sentido de uma coesão maior do nosso grupo de investigação e de linhas de investigação bem definidas. Isso consegue-se com a promoção de encontros e reuniões, mas especialmente com financiamento, que eu espero que passe a ser uma realidade mais estruturada na área das Ciências da Nutrição.

Que vida para além da investigação?

Tenho feito um esforço para deixar o computador no trabalho e para estar em casa mais dedicada à minha família. Gosto de dedicar tempo de qualidade aos meus filhos (um de 15 anos e uma de 10 anos), gosto de passear na natureza e de passar fins de semana a jogar canasta ou voleibol (dependendo do tempo), juntando gerações. Nos poucos tempos que tenho sozinha, vou ao ginásio ou vou dar uma corrida. Sempre fui uma pessoa ativa. Também gosto muito de cozinhar para a família e eles gostam muito da minha comida. É uma combinação que resulta muito bem (risos).