Os enfermeiros portugueses estão hoje mais ansiosos, com mais sintomas depressivos e com níveis mais elevados de stress, em consequência da pandemia de COVID-19.

Este é um dos resultados preliminares de um estudo longitudinal que está a ser desenvolvido por investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde. O objetivo é avaliar o impacto do novo coronavírus na saúde mental dos enfermeiros.

“A generalidade dos enfermeiros portugueses apresenta níveis patológicos de ansiedade, níveis que são significativamente superiores aos indicados relativamente ao período anterior ao início da pandemia”, afirma Francisco Sampaio, investigador do CINTESIS e um dos coordenadores do estudo, que envolve também Carlos Sequeira e Laetitia Teixeira.

Os investigadores avaliaram um total de 767 enfermeiros que exercem funções em contexto clínico, através da realização de um questionário online, e detetaram um aumento de cerca de 40% nos seus níveis de ansiedade. Os enfermeiros inquiridos admitem que estão mais nervosos, mais inquietos, mais inseguros, mais tensos e mais preocupados com o futuro.

De acordo com Francisco Sampaio, “estes dados reportam-se a um momento relativamente inicial da pandemia (entre 31 de março e 7 de abril), um período de grandes mudanças e incertezas, que podem ajudar a justificar o aumento de sintomas de ansiedade, mas é possível que o prolongamento da situação no tempo possa levar também a um aumento de sintomas depressivos”.

Cruzando com as condições de trabalho, os investigadores concluíram que os sintomas depressivos, ansiedade e stress são mais elevados quando os enfermeiros entendem que os equipamentos de proteção individual (EPI) não são os mais adequados, seja em quantidade, seja em qualidade.

Neste inquérito, cerca de 45% dos enfermeiros entendem que a quantidade das máscaras disponíveis não é adequada e 52% percecionam a sua qualidade como insatisfatória.  Mas é em relação aos óculos ou viseiras que a perceção de quantidade e qualidade é mais baixa. Quase 55% acham que não são adequadas.

“Há também um elevado receio de infetar amigos e família, receio que se traduz em maiores níveis de ansiedade, stress e sintomas depressivos. Numa escala de 0 a 10, o medo de ser infetado pela SARS-CoV2 situa-se nos 7,6, mas o medo de infetar a família ou amigos ascende a 8,9”, conta o investigador do CINTESIS.

Cerca de 10% dos enfermeiros inquiridos estão deslocados da sua residência habitual, o que se traduz num aumento dos níveis de sintomas depressivos. Grande parte destes casos reporta-se a enfermeiros que estão voluntariamente longe de casa para protegerem a família de um eventual contágio.

Os investigadores registaram também uma relação entre o aumento do número de horas de trabalho (42 horas semanais em média) e o aumento dos níveis de ansiedade, stress e sintomas depressivos.

Este inquérito revela ainda que 57% dos enfermeiros classificam o seu sono como mau ou muito mau e que 48% classificam a sua qualidade de vida como má ou muito má.

Apesar do aumento da ansiedade, stress e sintomas depressivos, apenas 1,4% dos enfermeiros procurou algum tipo de serviço de apoio, como consultas online ou linhas telefónicas de apoio. Esta baixa procura parece revelar alguma desvalorização dos sintomas, mesmo quando em níveis patológicos.

Os investigadores do CINTESIS irão aplicar o inquérito aos enfermeiros de quinzenalmente. O estudo deverá prolongar-se até ao fim da pandemia.