De que modo o aleitamento materno influencia a microbiota intestinal dos bebés “muito prematuros”, isto é, nascidos entre as 28 e as 32 semanas de gravidez? Qual é o papel do tipo de parto nos micróbios que “habitam” o intestino destes bebés especialmente vulneráveis?

Estas são algumas das perguntas que uma equipa de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e NOVA Medical School quer ver respondidas através da realização de um estudo pioneiro em Portugal, em colaboração com a equipa de neonatologia dirigida por Teresa Tomé, neonatologista da Maternidade Dr. Alfredo da Costa/Centro Hospitalar de Lisboa Central. Trata-se de um estudo pioneiro, desenvolvido em colaboração com o único Banco de Leite Humano existente em Portugal.

Com este estudo observacional, pretende-se avaliar os fatores que interferem com a microbiota intestinal (bactérias e outros microrganismos que habitam o intestino) de bebés “muito prematuros” hospitalizados numa unidade de cuidados intensivos neonatal nacional. Em análise estão os hábitos alimentares da mãe, o tipo de parto (vaginal ou cesariana) e o tipo de alimentação disponibilizada aos bebés nesta fase da vida (leite materno, leite materno de dadora fortificado e não fortificado ou ainda leite de fórmula).

“O leite materno é rico em probióticos e em prebióticos devido ao conteúdo rico em oligossacarídeos, que ajudam a modular a microbiota intestinal. Por isso, a Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno em exclusivo nos primeiros seis meses de vida”, explica Juliana Morais, investigadora do Cintesis e primeira autora do trabalho coordenado por Conceição Calhau e já publicado no Neonatology.

De acordo com a investigadora, nutricionista, “quando o leite materno não está disponível, o leite de dadora deve ser a primeira alternativa. Embora este leite passe por um processo de pasteurização, acredita-se que o resultado na microbiota dos bebés será semelhante à do leite materno. Já o leite de fórmula tem sido associado a uma menor diversidade de Bifidobactérias e a excesso de peso/obesidade aos 18 meses de idade”.

Os investigadores acreditam que o tipo de alimentação provocará diferenças significativas na composição da microbiota intestinal dos bebés nascidos entre as 28 e as 32 semanas de gestação, que são particularmente suscetíveis de sofrerem um desequilíbrio entre microrganismos benéficos e microrganismos prejudiciais (disbiose intestinal).

Ao contrário do que se pensava, esta alteração precoce do tipo, quantidade e diversidade de bactérias presentes no intestino não será temporária, antes afetará a “programação” do metabolismo e da imunidade muito para além da infância, influenciando o desenvolvimento de várias doenças na idade adulta.