Aos 60 anos de idade, Herlander Marques é investigador principal do grupo BioOncoSim – Medicina Biomolecular e Simulação Computacional, do CINTESIS (LT2 – Investigação Clínica e de Translação), cargo que alia ao exercício da Medicina na área da Oncologia.

Nasceu em Avanca, no distrito de Aveiro, onde viveu e estudou, excetuando os dois anos em que esteve em Moçambique, com o pai, que pertencia à Força Aérea.  “Foi uma experiência marcante”, recorda. Mais tarde, fez o Liceu no Colégio Militar, em Lisboa, onde terá começado o seu interesse pela investigação na área das Ciências da Vida. Pensou em fazer o curso de Biologia, mas, a conselho da irmã e como tinha boas notas, acabou por fazer Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em 1984.

Completou a especialidade de Medicina Interna no Hospital de São João (hoje Centro Hospitalar Universitário de São João – CHUSJ) e a especialidade de Oncologia no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto e estagiou no Instituto Gustave Roussy, em Paris. Em parceria com outro oncologista, escreveu o livro “Oncologia para Clínicos Gerais”, editado pela BIAL. Trabalhou como internista no CHUSJ entre 1992 e 1993 e como oncologista no Serviço de Hemato-Oncologia do IPO do Porto, entre 1996 e 2006. Transitou, nessa altura, para o Hospital de Braga, onde se mantém até hoje, no Serviço de Oncologia Médica.

Sempre aliou a prática clínica à investigação clínica e de translação, tendo sido atraído para a Oncologia Hematológica por ser uma área “mais dinâmica”.  Fez mestrado integrado na parceria Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Universidade de Filadélfia (Estados Unidos da América) e IPO do Porto, tendo-se focado nas alterações moleculares subjacentes às doenças oncológicas da linha linfoide e no seu impacto clínico. Em 2014, concluiu o doutoramento na Universidade do Minho, com uma série de trabalhos sobre a associação do vírus Epstein-barr e de variantes polimórficas de vários genes humanos ao risco de linfomas. Está envolvido em estudos clínicos de fase 3 em diferentes doenças oncológicas, principalmente linfomas, mielomas e leucemias, estudos esses feitos em colaboração com a indústria farmacêutica e que poderão resultar na introdução de novos fármacos no mercado.

Integra o CINTESIS desde 2017, liderando o grupo BioOncoSim – Medicina Biomolecular e Simulação Computacional. O grupo dedica-se ao desenvolvimento de investigação clínica e epidemiológica na área da medicina biomolecular e de modelos de simulação computacional no campo da terapia oncológica. Os objetivos passam por testar a eficácia, precisão, segurança e custo-benefício de tratamentos oncológicos inovadores, através do desenvolvimento de modelos de simulação, ensaios in silico e projetos epidemiológicos e prospetivos multicêntricos em pacientes.

Um dos projetos que tem “na calha” promete alterar o paradigma do tratamento de várias doenças oncológicas. Numa parceria entre o CINTESIS, instituições de ensino superior, hospitais e empresas de Biotecnologia, o projeto insere-se na área da terapia celular no cancro com células dendríticas em doentes resistentes aos tratamentos convencionais com quimioterapia. “As terapias com células com células T, que são reprogramadas para atacarem as células do tumor, têm resultados extraordinários. Este projeto quer explorar outra parte da resposta imunológica completamente diferente, que é a apresentação antigénica, ou seja, o reconhecimento de que o tumor são células alteradas que importa combater. Pretende-se que seja o sistema imune do próprio doente a reconhecer e atacar o tumor”, explica.

Herlander Marques recebeu, em 2016, uma menção honrosa na 1ª edição do Prémio Janssen Inovação pelo trabalho “Methodology for Single Nucleotide Polymorphism Selection in Promoter Regions for Clinical Use. An example of its applicability” e venceu, em 2018, a 2.ª edição da Bolsa de Investigação em Mieloma Múltiplo, da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL) e da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH), em parceria com a Amgen Biofarmacêutica), no valor de 15 mil euros. Foi membro da Direção do Colégio de Oncologia Médica da Ordem dos Médicos durante 2 mandatos, foi fundador e ainda membro ativo dos órgãos sociais da Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas (APLL)

Ambição a 1 ano?

Desejo continuar os ensaios clínicos que estão a decorrer e cujos resultados podem ser utilizados em benefício do avanço da ciência e do desenvolvimento de novos fármacos para os doentes oncológicos.

Ambição a 10 anos?

Vejo-me a fazer clínica e investigação durante mais alguns anos. As ideias estão sempre a aparecer. Após obtermos resultados no projeto que queremos desenvolver no CINTESIS, a sequência lógica seria associar a terapia celular com células T ao melhoramento da apresentação antigénica com as células dendríticas. Isto permitiria que o conhecimento passasse para a indústria. Um dos grandes trunfos deste projeto é juntar hospitais, universidades e indústria, algo que não é habitual. Infelizmente, a investigação, em Portugal, ainda não tem uma repercussão prática, de negócio.

Vida para além da clínica e da investigação?

Lá em casa somos todos médicos. Tenho três filhas, todas elas médicas (uma nefrologista, uma oftalmologista e a mais nova está a fazer Psiquiatria). A minha esposa também é médica especialista em Radiologia.

Sempre adorei futebol. Só deixei de jogar por causa das lesões. Faço corridas, participo em várias provas, às vezes em meias-maratonas. No verão, faço canoagem, rafting e canyoning. Gosto de fazer atividade física e de estar em contacto com a natureza.