Hernâni Gonçalves tem 39 anos, nasceu no Porto, é matemático, docente, praticante de surf e ex-escuteiro. É também o investigador principal do SPA – Aplicações em Processamento de Sinal, um dos mais recentes grupos de investigação criados no CINTESIS.

O investigador conta que, quando jovem, queria seguir Engenharia Eletrotécnica, mas a Matemática ganhou-o, muito por culpa de uma professora do Secundário. Entrou em Astronomia, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, mas, ao fim de um ano, conseguiu mudar para o curso de Matemática Aplicada à Tecnologia, na mesma Faculdade. Foi estagiário e, mais tarde, bolseiro do projeto CARDIOCRONOS (FMUP, FCUP e FEUP), coordenado por João Bernardes e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tendo desenvolvido trabalho na área de processamento de sinal e análise de dados.

Concluiu o Mestrado em Métodos Computacionais em Ciências e Engenharia (FEUP/FCUP), em 2004, com um trabalho na análise da frequência cardíaca fetal e animal, com o objetivo de identificar atempadamente situações de risco de hipoxia fetal. Foi investigador do Centro de Investigação em Ciências Geo-Espaciais na FCUP, tendo terminado o Doutoramento em Engenharia Geográfica em 2010, com uma tese que consistiu no registo automático de imagens de satélite.

Em 2011, regressou à área Biomédica como bolseiro de pós-doutoramento da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto/CINTESIS, sob orientação de João Bernardes, Diogo Ayres de Campos e Altamiro da Costa Pereira. Em 2017, passou a Professor Auxiliar Convidado, no Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde (MEDCIDS) e, em 2019, a Professor Auxiliar. É também um dos responsáveis pela Winter School 2019 e investigador do SisPorto, dedicado à análise automática do cardiotocograma (registo simultâneo da frequência cardíaca fetal e contrações uterinas).

Como investigador principal do SPA, dedica-se a desenvolver metodologias de processamento e análise de sinais biomédicos que possam servir como alternativas ou complementos aos métodos já existentes, particularmente para monitorização da frequência cardíaca e de outros sinais fisiológicos. “Há muitas mudanças tecnológicas, os novos equipamentos permitem outro tipo de abordagens e matematicamente podemos ir sempre melhorando e inovando”, afirma o responsável.

Juntando investigadores de áreas tão distintas como Matemática Aplicada, Medicina, Geografia e Ambiente, o seu grupo dedica-se ainda à análise da relação entre dados de natureza espácio-temporal, como os que são obtidos através de imagens de satélite, e a saúde das pessoas. Bons exemplos disso mesmo são dois projetos em curso, um que estuda a relação entre fatores ambientais e a ocorrência de parto pré-termo e pré-eclâmpsia e outro que visa a identificação de padrões espaciais e temporais na probabilidade de ocorrência de infeções nosocomiais, permitindo a determinação de zonas de maior risco e a definição de estratégias preventivas.

Ambição a 1 ano?

A ambição do SPA é crescer. Concorremos a financiamento para conseguirmos ter mais massa crítica e para dar resposta a ideias nossas e a desafios que nos coloquem. O grande desafio é conseguir dinheiro para manter os investigadores atuais e para “recrutar” novos investigadores. Também existe a possibilidade de virmos a fazer prestação de serviços na análise de sinais, nomeadamente ECG, eletromiografia, a instituições de saúde ou em parceria com projetos em curso.

Ambição a 10 anos?

A 10 anos, a ambição é concretizar o terceiro objetivo do grupo: produzir conhecimento para a saúde preventiva e contribuir para a melhoria do diagnóstico e tratamento personalizados. A nossa ambição é vermos que aquilo que fazemos não se resume a publicações científicas, mas que é útil para as pessoas. Acho que esse deve ser o objetivo de um investigador: produzir conhecimento que seja útil à sociedade.

Que vida para além da investigação?

Gosto de passar tempo com a família e de fazer desporto. Ando em aulas de surf há dois anos. Também gosto de correr e de jogar ténis. De vez em quando pego na guitarra para tocar, gosto que vem do tempo em que fui escuteiro onde estive cerca de 6 anos (de explorador a pioneiro).