Se há um motivo de queixa no que se refere ao atendimento nos serviços de saúde, seja público ou privado, é o tempo de espera. No entanto, o que a maioria das pessoas desconhece é que não são apenas os utentes que têm de aguardar. Muitas vezes, os profissionais de saúde veem-se constrangidos no cumprimento das suas tarefas, sendo obrigados a aguardar para terem as informações ou os recursos necessários para atenderem os pacientes.

É para dar resposta a estas situações e “agilizar o sistema” que Gustavo Bacelar, investigador do CINTESIS  e chefe de informação médica da spin-off VirtualCare, está a trabalhar, no âmbito do seu projeto de doutoramento em Investigação Clínica e Serviços de Saúde (PDICSS), intitulado A study of implementing Theory of Constraints in healthcare services.

O primeiro caso intervencionado pelo investigador do CINTESIS foi o Serviço de Oftalmologia do Hospital de Santa Luzia, em Salvador, no Brasil. Após a implementação de um novo processo, o número de pacientes atendidos aumentou em mais de 50%, em quatro semanas e sem qualquer tipo de investimento financeiro. A novidade da solução apresentada pelo investigador está na utilização da Teoria das Restrições, que defende a identificação da “restrição” (ou seja, o fator que limita o desempenho de um sistema ou organização), para subordinar a organização do processo à otimização do trabalho dessa “restrição”.

Ou seja, no caso do Serviço de Oftalmologia do hospital brasileiro, “o recurso que tinha de ser otimizado era o médico”. Assim, o processo foi reconfigurado de forma a evitar que o médico ficasse parado e demasiado dependente de outros profissionais, como enfermeiros e auxiliares.

“Quando começamos a intervenção, eram realizadas 12 consultas programadas e 2 consultas extra. No final da nossa intervenção e após apenas quatro semanas, o número de pacientes atendidos subiu para 23 (18 consultas programadas e 5 extra)”, relata o especialista. Em conclusão, foi registado um aumento de 50% no número de consultas programadas realizadas e um aumento de 150% na capacidade de realização de consultas extraordinárias.

“Para além destes resultados mais objetivos, registamos ainda uma melhoria na satisfação das equipas de saúde e na qualidade dos cuidados prestados”, explica Gustavo Bacelar, sublinhando que não foi necessário realizar gastos em novos equipamentos ou recursos humanos.

“Os serviços de saúde não podem ter um médico à espera de saber quem será o paciente que deve atender de seguida. O seu tempo deve ser utilizado a 100%, para benefício dos utentes”, explica Gustavo Bacelar. Para que isso aconteça, “o médico não pode parar porque os pacientes não foram devidamente preparados, porque falta informação clínica ou porque tem de aguardar por outro profissional de saúde, nomeadamente, um enfermeiro”, acrescenta.

A próxima intervenção do investigador do CINTESIS terá como alvo o Serviço de Obstetrícia de um grande hospital português. “Numa altura em que o Sistema Nacional de Saúde enfrenta sérios desafios no que se refere à gestão dos seus Serviços de Obstetrícia e Maternidades, a redefinição da forma como o atendimento das utentes é feito e a sua otimização poderá constituir uma solução particularmente custo-eficiente”, comenta o médico Gustavo Bacelar, acrescentando que o objetivo do seu projeto é “melhorar a qualidade dos serviços de saúde de forma atempada e custo-eficiente, agora e no futuro”.

Note-se que a Teoria das Restrições já foi utilizada noutros países para melhorar a eficiência dos serviços de saúde. No Reino Unido, esta teoria ajudou o Oxfordshire Radcliffe Hospital a aumentar a percentagem de pacientes que passavam menos de quatro horas nos Serviços de Urgência, de 50% para 95%, em apenas dois meses. A mesma teoria já foi usada em consultas de Medicina Geral e Familiar e em Serviços de Cirurgia Oral e Maxilofacial com indicadores muito positivos. Em Portugal, não são conhecidos casos da aplicação deste método na área da saúde.