Paulo Santos é investigador integrado do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, onde lidera o grupo de investigação PrimeCare, bem como o projeto METIS e o HYGEIA, funções que conjuga com a docência e com a atividade assistencial como médico de família.

Nasceu há 47 anos na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, mas era criança quando se mudou para Vila Nova de Gaia com os pais e os irmãos. Estudou no Colégio Internato dos Carvalhos e ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) no ano letivo de 1989/90. Sempre quis ser médico e desde cedo houve quem lhes vaticinasse esse futuro, mesmo sendo o primeiro na família a seguir este caminho.  Primeiro, quis ser cirurgião. Gostava do ambiente de “bloco”. Acabou por decidir ser médico de família. Ingressou na especialidade de Medicina Geral e Familiar (então Clínica Geral), em 1998. Fez o internato no Centro de Saúde de Arcozelo (agora integrado no ACES Gaia/Espinho), tendo terminado em 2002, com o serviço militar obrigatório pelo meio.

Considera que o seu percurso profissional tem sido traçado por oportunidades que foi agarrando. Corria o ano de 2003, estava no Centro de Saúde de Oliveira do Douro, quando recebeu um convite de Alexandre Sousa Pinto para trabalhar no Centro de Saúde de São João, que pertencia ao então Departamento de Clínica Geral da FMUP. Aceitou e ali se manteve até ao encerramento daquele projeto assistencial, em 2011. “Era um projeto muito interessante. As atuais Unidades de Saúde Familiar (USF) foram beber muito à nossa experiência como tubo de ensaio”, diz, confessando que ainda alimenta o sonho de contribuir para a criação de uma clínica universitária.

Transitou, então, para a USF de São João do Porto e continuou a dar aulas, como Assistente, na FMUP. Em 2014, concluiu o doutoramento e optou pela carreira académica, ingressando na FMUP como Professor Auxiliar a tempo integral. Continuar a atividade assistencial e o contacto com os doentes eram condições sine qua non, apesar de o fazer agora apenas em serviços de saúde privados. “O médico respira com os seus doentes, faz parte do seu ADN, não pode ser de outra forma”, acredita.

Enquanto investigador, integra o CINTESIS há vários anos, tendo passado a liderar um novo grupo de investigação, o PrimeCare, em 2018. Já este ano, a equipa ganhou novos membros, num claro sinal de expansão.

“Ninguém faz investigação sozinho. Os nossos investigadores já andavam a trabalhar nas mesmas áreas, como a medicina preventiva, a literacia de saúde e os Cuidados de Saúde Primários, incluindo a avaliação dos sistemas de saúde, a contratualização e a sustentabilidade económica. É por aqui que queremos ir. Queremos congregar esforços para termos projetos que respondam às questões das pessoas, cidadãos utilizadores dos serviços de saúde ou profissionais, mas que ao mesmo tempo consigam ter força para convencer as entidades financiadoras”, sublinha.

Também no âmbito do CINTESIS e do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde da FMUP, continua a desenvolver o seu trabalho como coordenador do projeto METIS, vocacionado para a promoção da literacia de saúde.

“Tem de haver uma normalização da linguagem, esta tem de ser clara e acessível, para conseguirmos que a decisão seja partilhada e que os resultados de saúde possam melhorar. O nosso objetivo não é criar uma perceção de ameaça face às doenças, ou de publicitar tratamentos mais ou menos inovadores, levando a um potencial aumento do número de consultas, mas sim que as pessoas consigam resolver de forma autónoma um conjunto enorme de situações relacionadas com a saúde, no seu dia a dia”, explica.

Outro projeto que lidera, o HYGEIA dá um passo em frente e passa da informação à criação de competências no terreno, junto de jovens do 9º ano de escolaridade, atuando na área da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente do VIH/SIDA.

O futuro, diz o responsável, passará pela consolidação e crescimento do grupo de investigação que lidera e pela contribuição para a reforma dos Cuidados de Saúde Primários.

Ambição a 1 ano?

Este ano, a ambição é consolidar o aumento do grupo PrimeCare e de projetos conjuntos, a nível nacional, que possam criar condições para concorrermos a financiamentos maiores e com mais consistência.

Ambição a 10 anos?

Penso que, obrigatoriamente, vamos ter um Governo que diga o que quer para a saúde dos portugueses. Isso significará uma evolução na reforma dos Cuidados de Saúde Primários (CSP). Eu tenho a expectativa de uma evolução das USF no sentido de um maior equilíbrio de gestão entre o lucro e o risco. Isso implica trabalho. Aí, faz todo o sentido que os centros de investigação universitários produzam e validem o conhecimento nessa área e nós, como investigadores, esperamos ter uma voz ativa.

Que vida para além da investigação?

Nos últimos tempos, tenho-me dedicado mais à jardinagem. É um escape magnífico. Naturalmente, também passo tempo com a minha família, a minha mulher e os meus quatro filhos, entre os 12 e os 17 anos. A minha família é fundamental na minha vida.