A baixa qualidade dos dados de vigilância epidemiológica da COVID-19 em Portugal limita a sua utilização no quadro da investigação e mesmo da tomada de “boas decisões” em matéria de Saúde Pública, podendo comprometer o controlo da atual pandemia.

O alerta é de um estudo desenvolvido por um conjunto de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

O estudo, intitulado “COVID-19 surveillance – a descriptive study on data quality issues”, foi recentemente publicado no jornal científico medRxiv. Os investigadores analisaram os dados disponibilizados pela Direção-Geral da Saúde (DGS) em abril e em agosto deste ano, na sequência dos apelos que os próprios fizeram no sentido de que as bases de dados fossem tornadas públicas.

Os resultados apontam para a existência de “inconsistências significativas”, nomeadamente entre os números de casos e de mortes por COVID-19 divulgados diariamente.

A equipa detetou ainda outros problemas, tais como diferenças entre as variáveis utilizadas e a ausência de um número significativo de dados. De acordo com estes cientistas, mais de quatro mil casos que faziam parte dos dados disponibilizados pela DGS em abril não constam da atualização feita pela própria DGS no mês de agosto.

“É urgente melhorar os dados de vigilância epidemiológica, através, por exemplo, da simplificação do processo de entrada dos dados, de uma monitorização constante e de um maior treino e consciencialização dos profissionais de saúde”, indicam os investigadores.

O presente estudo tem como autores Cristina Costa-Santos, Ana Luísa Neves, Ricardo Correia, Paulo Santos, Matilde Monteiro-Soares, Alberto Freitas, Inês Ribeiro-Vaz, Teresa Henriques, Pedro Pereira Rodrigues, Altamiro da Costa Pereira, Ana Margarida Pereira e João Fonseca.