Arrancou oficialmente o projeto Best4OlderGBTI, com vários investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde. O “pontapé de saída” foi dado numa conferência internacional que juntou perto de uma centena de pessoas no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, no dia 28 de fevereiro.

Intitulada “Sexualidade no Envelhecimento: Tempo para Igualdade e Inclusão”, a conferência abordou o problema da discriminação com base na idade (idadismo), orientação sexual, identidade de género, expressão de género e características sexuais das pessoas mais velhas.

O evento insere-se no âmbito do projeto Best4OlderGBTI, que consiste numa campanha de consciencialização relativamente às questões LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexo) na população mais velha a nível europeu, tendo em vista o combate ao preconceito, ao estigma, à violência e ao abuso.

“É preciso falar da sexualidade das pessoas mais velhas e das suas diferentes formas de expressão. Os serviços terão de se adaptar a esta diversidade”, diz Constança Paúl, investigadora do CINTESIS e responsável do CAS050+ Centro de Atendimento e Serviços 050+, uma organização sem fins lucrativos que visa a promoção e prossecução de iniciativas na área da saúde, bem-estar, envelhecimento ativo e qualidade de vida dos mais velhos.

Neste âmbito, estão previstas várias ações de sensibilização online, com tradução nas línguas dos vários parceiros, incluindo a divulgação de vídeos com pequenos testemunhos transmitindo mensagens positivas e inclusivas, bem como ações presenciais dirigidas a diferentes públicos, incluindo profissionais de saúde e da área social, professores e também estudantes.

Os investigadores vão igualmente adaptar um programa português de intervenção para a mudança de atitudes relativamente ao idadismo, um tipo de preconceito baseado na idade, como, por exemplo, pensar-se que a partir de uma certa idade não existe mais sexualidade.

“Nós estudámos o envelhecimento há muito tempo e a invisibilidade da sexualidade no envelhecimento era algo que nos inquietava. No caso da população LGBTI, existe uma dupla discriminação (pela idade e pela sexualidade), que deve ser combatida”, diz Maria João Azevedo, do CINTESIS.

De acordo com a investigadora e psicóloga, um dos grandes desafios com que as pessoas LGBTI se deparam, especialmente na velhice, é o contacto com os profissionais de saúde, por terem medo de se abrirem, de assumirem a sua sexualidade. A idade exacerba todos os problemas sentidos ao longo da vida. Além disso, as pessoas transgénero têm necessidades de saúde diferentes, específicas que devem ser atendidas”, explica Maria João Azevedo.

A nível social colocam-se também problemas prementes, como o da institucionalização. “Se pensarmos nas instituições clássicas em Portugal, a questão é muito sensível. Se já é difícil para um casal heterossexual ter um quarto num lar, por exemplo, imagine-se para um casal homossexual”, nota.

Segundo Rita Tavares de Sousa, também do CINTESIS, o foco será “contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas mais velhas, envolvendo-as e dando-lhe voz em todo este processo”.

O projeto tem como parceiros várias organizações com projetos na mesma área e é financiado pelo programa Rights, Equality and Citizenship (REC) Programme, da Comissão Europeia.