Liliana Sousa é investigadora integrada do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, no grupo de investigação AgeingC, no polo da Universidade de Aveiro, onde é Professora Associada com Agregação desde 2016.

Nasceu em 1967, em Aveiro, onde cresceu e fez o seu percurso escolar até ao 12º ano. Era uma excelente aluna, mas o seu sonho era estudar em Coimbra, pelo que escolheu um curso que não existia na sua cidade natal. Fez licenciatura e mestrado em Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e estágio em Terapia Familiar, tendo trabalhado no Centro de Ação Social do concelho de Ílhavo.

Há 28 anos, ganhou o concurso para Assistente Estagiária na Universidade de Aveiro, onde fez o doutoramento em Ciências da Educação, no qual desenvolveu um modelo sistémico de intervenção colaborativa para crianças com necessidades educativas especiais, pais e professores.

“Na altura, foi uma questão muito prática. Na Universidade  tínhamos muito mais oportunidades de fazer coisas diferentes, conhecer pessoas diferentes, escolher os nossos projetos”, confessa.

Coordenou o Observatório Permanente de Desenvolvimento Social e desempenhou cargos de gestão universitária, tendo feito parte do Programa Ciências da Saúde, Universidade de Aveiro. Foi ainda Pró-Reitora da Universidade de Aveiro.

“Eu tinha 41 ou 42 anos quando assumi esse cargo. Foi muito interessante. Aprendi que não sou uma pessoa de atuação macro, embora tenha passado muitos anos na gestão macro. Na verdade, não é a minha onda. Gosto mais de trabalhar com uma pessoa ou com um grupo pequeno. Gosto de ‘estar com’. Aprendi isto sobre mim”.

Enquanto investigadora, faz parte do CINTESIS, no grupo AgeingC, dedicado ao envelhecimento. “O AgeingC tem vindo a crescer, tem vindo a ganhar qualidade e bons investigadores. Sinto que teve uma primeira fase de adaptação, quando nos juntamos ao CINTESIS, e que nos últimos dois ou três anos, temos vindo a crescer a sério. E espero que ainda possamos crescer mais”.

Como senior researcher, participa atualmente em diversos projetos, com destaque para o MOAI LABS: Laboratórios de Inteligência Coletiva e Tecnologia Social e de Saúde, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), no âmbito do programa Interreg Sudoe. Através da criação de uma metodologia inovadora, os “living labs”, pretende-se estudar o fenómeno de solidão e isolamento social dos mais velhos e, com eles, explorar desafios e desenvolver soluções digitais que contribuam para promover a sua participação social.

“Este projeto é muito interessante porque é feito com pessoas que se sentem só ou isoladas e o grande objetivo é dar-lhes bem-estar, usando soluções digitais, através do modelo “experts by experience”, ou seja, especialistas por experiência. Portanto, é desenvolvido colaborativamente com estas pessoas. Contamos começar a fazer as reuniões com estes especialistas por experiência, em Portugal, já neste mês de maio”.

De entre outros projetos em que participa, destaca o GrampCity, que estuda a mobilidade de pessoas idosas em bairros urbanos, e o Seduce 2.0, que estuda a sociabilidade online dos cidadãos séniores através das tecnologias de informação e comunicação (TIC).

Apaixonada pela Gerontologia, onde descobriu “o seu lugar”, afirma estar a preparar a sua própria velhice. “É inevitável pensar na velhice quando se trabalha nesta área. Isso transforma-nos e ensina-nos a aproveitar melhor o dia a dia e as pessoas que estão connosco. Temos mais noção da mortalidade, da finitude. Costumo começar as minhas aulas do mestrado em Gerontologia Aplicada a dizer que a taxa de mortalidade continua nos 100%. Nós não evitamos que as pessoas morram. Podemos apenas fazer com que vivam mais tempo e melhor. A vida acontece. Há uma certa leveza quando assumimos que é assim”.

Ambição a 1 ano:

Espero continuar a trabalhar na formação dos estudantes. A formação é muito importante. As pessoas ainda têm medo da dependência, da morte, da velhice e de tudo o que lhe está associado. Temos um mundo de pessoas a trabalhar com pessoas idosas sem terem formação nesta área. Isso tem efeitos na prática. Quando as pessoas têm filhos, arranjam uma boa educadora e uma boa professora, mas entrega-se os idosos a pessoas sem formação específica. As pessoas muitas vezes nem percebem que poderiam fazer de outra maneira. Se não aprenderem, não podem saber.

Ambição a 10 anos:

Daqui a 10 anos, espero estar quase a reformar-me ou já estar reformada. Em termos profissionais, acho que fiz tudo o que tinha a fazer. Até lá, continuarei a envolver-me nesta área da Gerontologia e darei o meu melhor contributo, em intervenções adaptadas às pessoas idosas.

Que vida para além da investigação?

Tenho um cão, o Valentim, porque foi adotado no Dia de São Valentim. Mas habitualmente chamo-lhe Tim.

Não tenho filhos. Isso é algo que as pessoas não perguntam diretamente. O meu pai morreu no início da pandemia, não de COVID-19, mas de velhice, uma semana antes de confinarmos. Morreu em casa, com a família. A minha mãe tem 87 anos e está em forma. Tenho uma família pequena, mas a que sou muito ligada.

Sou uma pessoa que gosta da natureza. Gosto de fazer caminhadas, trilhos. Faço meditação há mais de 20 anos. Faz parte do meu dia a dia, de manhã e à noite. Não é fácil, mas resulta.

Acho que sou uma pessoa simples.