“A literacia em saúde é um importante determinante de saúde individual e deve constituir uma prioridade em saúde pública”, diz Paulo Santos, investigador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, num artigo de revisão publicado no jornal Cogent Social Sciences, com o título “Health literacy as a key for effective preventive medicine”.

Como primeiro autor, Paulo Santos apresenta uma série de estudos que mostram a importância da literacia em saúde no processo de tomada de melhores decisões e na obtenção de melhores resultados em saúde, designadamente a nível da medicina preventiva.

“Na perspetiva da prevenção, a literacia contribui para maximizar os resultados dos investimentos em saúde e para racionalizar os recursos disponíveis, contribuindo para a sustentabilidade dos sistemas de saúde”, pode ler-se no artigo.

Num contexto de recursos limitados, o investigador do CINTESIS considera que o investimento na literacia em saúde e na prevenção primária, com o objetivo de mudar estilos de vida, é a solução ideal, permitindo fazer mais com menos esforço financeiro e maximizando a eficiência.

Paulo Santos vê na literacia em saúde uma arma poderosa no sentido do “desinvestimento em tecnologias obsoletas”. E dá o exemplo das mamografias, cujo abuso está associado a falsos positivos, a sobrediagnóstico e a riscos.

O investigador e médico de família realça, no entanto, que não basta publicar a melhor evidência científica em jornais com elevado fator de impacto, nem fazer guidelines, como se elas fossem transportadas “por magia” para a prática. E aponta as guidelines publicadas em Portugal nos últimos anos como bons exemplos da dificuldade em fazer a tradução para uma “linguagem corrente”.

Em seu entender, os médicos devem integrar o doente no processo de decisão, usando uma linguagem clara e acessível, sem preconceitos. “Para tomarem melhores opções, os doentes têm de entender a informação e integrá-la nas suas rotinas”, diz, cabendo aos profissionais de saúde o papel de “definir objetivos e estratégias para as alcançar”.

Em conclusão, a aposta numa maior literacia em saúde poderá contribuir para uma população mais informada com mais capacidade para fazer livremente as melhores escolhas, com base na melhor evidência aplicada a cada caso, contribuindo para uma efetiva prevenção no contexto dos cuidados médicos e de saúde.