Mafalda Duarte é investigadora integrada do grupo de investigação AgeingC, do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde/ICBAS, com um vasto trabalho na área do envelhecimento, avaliação e intervenção na pessoa idosa frágil e cuidados informais.

Nasceu em 1980, em Barcelos, onde fez o seu percurso escolar até ao curso superior de Psicologia, no Instituto Superior da Maia (ISMAI), que concluiu em 2002. “Percebi muito cedo que tinha uma predisposição e um interesse muito particular em trabalhar com pessoas”, conta.

Em 2003, integrou, como bolseira, um projeto de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) na área do envelhecimento, com Constança Paúl, com quem trabalha até hoje. A propósito, recorda: “Foi o meu primeiro contacto com a investigação, num mundo completamente novo. O objetivo era estudar a qualidade de vida das pessoas idosas em contexto rural comparativamente com um contexto urbano”.

Foi diretora técnica de um Serviço de Apoio ao Domicílio (SAD) e de uma Residência Geriátrica, ao mesmo tempo que fez dois mestrados: o Mestrado Europeu (European Master) em Gerontologia pela Vrije Universiteit Amsterdam (2005) e o Mestrado em Gerontologia Social pelo ICBAS (2006).

Na sua formação teve a oportunidade de conhecer realidades muito diversificadas, passando por várias universidades europeias, tais como no Institute of Gerontology, University of Heidelberg (Alemanha); Centre for Social Gerontology, Keele, Reino Unido; Centre de Gérontologie Hôpital Sainte Périne, na Versailles-Saint-Quentin, Yvelines University, França; Centre for Health Sciences, Tallaght Hospital, Irlanda; European Centre of Gerontology and Geriatrics, University of Malta, e Center for Research on Health and Aging – Institute for Health Research and Policy, University of Illinois, EUA.

E 2006, começou a lecionar no Instituto Superior de Saúde  (ISAVE), onde se dedica à docência e à carreira académica, sem nunca deixar a investigação. Em 2008, avançou para o Doutoramento em Ciências Biomédicas, transitando para o Doutoramento em Gerontologia e Geriatria, entretanto criado no ICBAS. O seu projeto foi sobre fragilidade e fatores preditores, uma área de estudo ainda muito recente e por explorar. Ao mesmo tempo, integrou uma Rede Europeia (European Innovation Partnership for Active and Health Ageing) sediada na Comissão Europeia, em Bruxelas, onde fez parte de um grupo na área da fragilidade.

Escreveu o manual “Fragilidade em Idosos – Modelos, Medidas e Implicações Práticas”, uma obra pioneira sobre a fragilidade das pessoas idosas em Portugal e que ainda está à venda. Numa lógica de continuidade, trabalhou com ICBAS/Faculdade de Farmácia/Porto4Ageing, desenvolvendo uma aplicação para smartphones para avaliação da condição de pessoa idosa frágil.

Os seus interesses passam igualmente por conhecer a realidade e os desafios experienciados pelos cuidadores informais. Neste âmbito, integrou no projeto “Cuidar em Casa”, financiado pelo Alto Comissariado para a Saúde, que deu origem ao projeto nacional CuiDEM e, a nível internacional, ao Care4DEM (Erasmus K”), numa lógica de criar ferramentas de apoio para os cuidadores informais de pessoas idosas com demência.

É também investigadora do Best4OlderLGBTI, que faz a sensibilização para as questões LGBTI entre os mais velhos. O CINTESIS é parceiro de ambos os projetos, atualmente alocados à Associação CASO50+, a que Mafalda Duarte preside.

Em 2015, assumiu o cargo de presidente do ISAVE, tendo sido responsável por uma nova forma de gestão científico-pedagógica e pela recuperação do Instituto, que tem hoje cerca de 300 alunos distribuídos por quatro licenciaturas e seis cursos técnicos (CTeSP). Mafalda Duarte salienta a ligação estreita que se tem estabelecido entre o CINTESIS e os estudantes, professores e profissionais do Instituto, através da colaboração em tarefas de investigação.

Que ambição a 1 ano?

Em termos de presidência do ISAVE, o objetivo sempre foi recuperar e revitalizar um projeto educativo e científico, que precisava de uma visão estratégica e alicerces para alcançar algumas metas. Atualmente a prioridade passa por muscular a investigação e desenvolvimento, numa lógica de internacionalização.

Quero contribuir para criar estruturas que promovam o raciocínio crítico e o pensamento investigacional e que deem continuidade a projetos de investigação com aplicabilidade na adaptação das respostas às necessidades atuais e futuras dos mais idosos, das instituições e das redes de cuidados informais.

Tendo em conta a atual conjuntura nacional, com a COVID-19, percebemos que os mais velhos, nomeadamente os institucionalizados, necessitam de cuidados especializados. É necessário que sejam criadas condições para tal.

Que ambição a 10 anos?

Procuro dar resposta eficaz e eficiente, numa lógica bastante humanizada. Dou valor às pessoas, quer seja ao nível da qualidade de formação dos técnicos de saúde, quer com uma atenção/cuidado com o público com que estes profissionais trabalham, quer em termos de investigação, e aqui com a preocupação constante com as pessoas mais velhas.

Na realidade, se daqui a 10 anos estiver a dar continuidade a estas questões e inquieta com outras que poderão surgir, estarei no bom caminho.

Que vida para além da docência e da investigação?

(risos) Bem, não tenho muito tempo livre. Trabalho com muitas equipas diferentes e em contextos distintos, o que exige muita flexibilidade. Valorizo as coisas simples, como uma ida à praia, ler um livro, fazer uma viagem ou pequenos momentos que me revitalizam e permitem-me um reencontro comigo.

Com a pandemia, encontro-me em teletrabalho e ainda é mais difícil desligar. Hoje em dia, o trabalho reside na mesma casa em que vivemos, o que torna mais difícil delimitar espaços. Tenho procurado dosear o trabalho e os momentos para mim, assim faço bicicleta e/ou faço caminhadas ( ao som da minha música). Faço um esforço muito consciente para me impor estes “time outs”.