Que a memória é mais eficaz em cenários de sobrevivência, já se sabia. Mas agora, uma equipa de investigação do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde demonstrou que a memória também se encontra melhorada quando está em causa a seleção de um parceiro sexual. O trabalho, publicado na revista científica Evolutionary Psychology, foi desenvolvido na Universidade de Aveiro e em parceria com a Universidade de Purdue, nos Estados Unidos da América.

A memória desempenha um papel fundamental no processo de acasalamento nos animais. No entanto, desconhecia-se se teria a mesma importância entre os humanos. Com o objetivo de perceber como é que a reprodução interfere com a capacidade de memorização humana, a equipa de investigadores portugueses e norte-americanos realizou duas experiências.

Nas experiências foram apresentadas a mulheres jovens uma série de imagens de rostos de homens com uma breve descrição dos mesmos. Foi pedido às jovens que classificassem os homens como indesejáveis, neutros ou desejáveis. Os investigadores solicitaram às participantes que a avaliação fosse realizada mediante dois cenários distintos.

“A um grupo de mulheres, foi pedido que avaliassem o nível de desejabilidade desses homens tendo em vista o estabelecimento de uma relação amorosa de longo prazo”, explica Josefa Pandeirada. A um outro grupo de mulheres foi pedido que avaliassem exatamente as mesmas faces masculinas mas desta vez tendo em vista a sua contratação, a longo prazo, como colega de trabalho. “A existência deste segundo cenário serviu como controlo”, explicou a investigadora, especialista em Psicologia.

Posteriormente, as mulheres foram chamadas a identificar os rostos que já conheciam de entre outros que lhe foram apresentados pela primeira vez. Quando reconheciam um dos rostos, deviam enumerar todas as informações que lhes tinham sido previamente prestadas.

“Os resultados mostraram que as mulheres que avaliaram as faces masculinas no contexto de uma relação amorosa recordaram de forma mais eficiente essas mesmas faces, por comparação às mulheres que avaliaram as mesmas faces mas num contexto de potenciais colegas de trabalho”, explica a investigadora. Para além disso, quando as mulheres avaliaram as faces apenas num dos contextos, estas foram mais eficazes a identificar qual a avaliação previamente atribuída ao elemento masculino quando este foi avaliado na condição de relação amorosa do que na de colega de trabalho.

Estes resultados contribuem para a crescente evidência de que a memória humana poderá ser particularmente sensível a aspetos que terão sido relevantes ao longo da nossa evolução.  Esta linha de investigação inovadora de estudo do funcionamento da memória, na qual a investigadora tem estado envolvida desde o início em colaboração com o cientista James Nairne da Universidade de Purdue (EUA), já revelou que a memória funciona particularmente bem em contextos de sobrevivência, com elementos animados e situações de potencial contaminação. “Este último estudo acrescenta o contexto de reprodução a este conjunto de condições”, conclui.