Camas que pesam os doentes, relógios que medem a tensão arterial, aplicações que registam os batimentos cardíacos. Hoje em dia, há uma enorme diversidade de dados relativos aos doentes que são registados e armazenados numa multiplicidade de softwares, aplicações e aparelhos cada vez melhores e mais específicos. O problema é que eles nem sempre conseguem comunicar entre si.

Para resolver esse problema, foi criada uma nova tecnologia denominada HS.Helios que visa promover a interoperabilidade e a integração de sistemas dentro dos hospitais, ou seja, que pretende colocar os aparelhos “a falar” uns com os outros. Na prática, esta tecnologia inovadora funciona como um “bus”, uma espécie de “central” que permite a troca de mais de um milhão de mensagens por mês, se necessário.

“Os hospitais têm muitos sistemas, softwares e máquinas diferentes, com as mais variadas finalidades e nas diversas especialidades. Temos de garantir que eles comunicam de forma correta, transmitindo dados relativos a milhares de doentes de forma eficaz e segura”, diz Ricardo Cruz Correia, investigador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e responsável pelo projeto “Demonstrador HS.HELIOS”.

Como o nome indica, o projeto, desenvolvido pela HealthySystems, em copromoção com o CINTESIS e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), surgiu para demonstrar que a tecnologia funciona, tendo-lhe sido atribuído um financiamento superior a 190 mil euros pelo Portugal 2020.

Para participar, foram escolhidos dois hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com características e perfis diferentes de utilização de dados: o Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga, EPE (CHEDV), em Santa Maria da Feira, e o Centro Hospitalar de Tondela-Viseu, EPE (CHTV), em Viseu.

Os primeiros resultados conhecidos já mostram uma evolução. “Com a entrada em funcionamento, há um conjunto de sistemas de informação que antigamente não comunicavam e que agora já comunicam. O HS.Helios já facilita, nestes hospitais, a comunicação de registos clínicos centrais do paciente, de aplicações de cuidados intensivos, obstetrícia, análises clínicas, cardiologia e radiologia e de questionários de opinião de utentes”, avança o responsável.

Segurança é grande “mais-valia”

A tecnologia agora implementada é uma segunda versão, mais evoluída, de uma primeira versão que a HealthySystems, spin-off do CINTESIS e da Universidade do Porto (chancela atribuída pela U.Porto Inovação) havia desenvolvido anteriormente. A grande mais-valia desta segunda versão é o reforço da componente de segurança, face à maior exigência decorrente do Regulamento Geral de Proteção de Dados.

“A questão da segurança é especialmente importante. Há muitas comunicações entre sistemas dentro dos hospitais e entre estes e entidades externas (por exemplo, em situações de ‘outsourcing’ de exames e análises clínicas). É preciso que essa troca de informação esteja devidamente registada, saber exatamente quando é que a informação foi enviada e quem a recebeu. A rastreabilidade das comunicações é um dos pontos fortes da tecnologia que nós estamos a implementar, pois permite controlar o fluxo de dados, reportar erros ou desvios e possibilitar a realização de auditorias”, explica Ricardo Cruz Correia.

Depois de colocar a tecnologia em funcionamento, a segunda fase passará por avaliar os indicadores entretanto recolhidos, entre os quais se incluem indicadores quantitativos (tempo de funcionamento, total de mensagens trocadas, etc.) e indicadores qualitativos (como queixas dos profissionais de saúde sobre falhas e impacto sobre o trabalho diário).

“Esperamos que o impacto seja muito positivo. Por exemplo, numa consulta, os profissionais de saúde gastam, muitas vezes, mais de metade do tempo a introduzir valores de análises no computador e a procurar dados em outros aplicativos. É tempo perdido! É natural que esta tecnologia liberte os profissionais de saúde para verem os doentes”, diz o investigador.

Os resultados finais do projeto deverão ser conhecidos em janeiro. “A nossa expectativa é que, depois de conhecidos os resultados, outros hospitais se interessem também por esta solução. Na realidade, já temos alguns hospitais com a primeira versão que querem esta segunda versão”, conclui.

Além de Ricardo João Cruz Correia (PI), o projeto integra mais dois investigadores do CINTESIS, Pedro Pereira RodriguesPedro Vieira-Marques.