O número de profissionais de saúde disponíveis, sobretudo o número de médicos, influencia de forma significativa o grau de controlo da hipertensão arterial, a par com a despesa nacional na saúde.

Esta é uma das conclusões de um estudo da autoria do investigador Paulo Santos, do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), e de Ana Sofia Carvalho, da FMUP.

O trabalho, intitulado “Medical Adherence in Patients with Arterial Hypertension: The Relationship with Healthcare Systems’ Organizational Factors”, avaliou a adesão ao tratamento dos doentes com hipertensão arterial em 31 países diferentes, incluindo Portugal, e concluiu que apenas 55% dos doentes toma os medicamentos conforme a prescrição do médico. Verificou-se, contudo, que a adesão varia muito em todo o mundo, desde apenas 11% na Indonésia até 85% na Austrália.

Entre os motivos que poderiam interferir na adesão, foram estudados os determinantes relacionados com a organização dos sistemas de saúde, designadamente o número de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e farmacêuticos), o tempo de consulta e a despesa feita na saúde.

“Encontrámos como determinantes de uma maior adesão à terapêutica o número de profissionais de saúde existentes e o investimento público e total em saúde”, revela o estudo, publicado no jornal científico Patient Preference and Adherence.

O número de médicos surge, neste contexto, como o fator organizacional mais “preponderante” na adesão à terapêutica. “Pensamos que o maior número de médicos facilita o acesso aos cuidados de saúde, bem como um seguimento mais apertado, contribuindo para um maior envolvimento dos doentes no seu próprio tratamento”, explicam os investigadores.

Também o número de enfermeiros, que desempenham um papel importante no controlo da pressão arterial e na educação dos doentes, demonstrou ter uma relação positiva com o grau de adesão. Já o número de farmacêuticos não pareceu ter um papel significativo a este nível, deixando um espaço de melhoria para a sua intervenção neste problema. Curiosamente, não se comprovou a existência de relação entre a duração da consulta e o grau de adesão à terapêutica nos hipertensos. Por outro lado, a adesão aparece positivamente associada ao investimento em saúde

“Não basta prescrever mais medicamentos: É importante perceber porque é que os doentes não aderem aos tratamentos e reduzir a não adesão, encontrando a melhor estratégia para cada indivíduo. Este estudo foca os fatores relacionados com a organização e estrutura dos serviços de saúde, chamando a atenção para a responsabilidade de promover condições que permitam maximizar o potencial de saúde das pessoas.”, afirmam os autores do estudo.

A hipertensão arterial é o principal determinante de mortalidade no mundo inteiro, estimando-se que contribua para cerca de 7,5 milhões de mortes por ano. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a hipertensão com valores de pressão arterial iguais ou superiores a 140/90 mm Hg e calcula que a doença atinja cerca de 22% da população adulta. Em Portugal, um estudo recente mostra que está presente em 42% dos adultos.