Miguel Padilha é investigador principal do Tech4edusim – Tecnologias para a Educação e Simulação na Saúde, um novo grupo do CINTESIS cujo foco está colocado na investigação e desenvolvimento de tecnologia aplicada à educação e à qualidade dos cuidados de saúde. Nasceu há 42 anos. Foi um miúdo irrequieto, rebelde até. Já na escola era chamado de urgência para acudir aos colegas que se magoavam nas brincadeiras próprias da infância e da adolescência. Ele próprio teve a sua quota parte de mazelas e de visitas ao hospital.

Quis ser piloto, mas acabou por trocar os aviões pelas enfermarias dos hospitais e pelas salas de aula. A Enfermagem só surgiu como opção no 12º ano e muito por influência de dois grandes amigos. Ingressou em 1994 na então Escola de Enfermagem de São João (atual Escola Superior de Enfermagem do Porto – ESEP), concluindo primeiro o bacharelato e depois a licenciatura. Trabalhou na Unidade de Traumatologia Crânio-encefálica do então Hospital de Santo António (que pertence agora Centro Hospitalar do Porto), tendo saído em finais de 2003 para assistente da ESEP, algo que encarou como uma “obrigação moral”. É professor adjunto da ESEP desde 2007.

A investigação surge formalmente em 2003, com o mestrado em Ciências da Enfermagem no ICBAS, na área da autogestão da doença. A partir de 2008, com o doutoramento em Enfermagem na Universidade Católica, dedica-se à área respiratória, particularmente à gestão da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). “Até há bem pouco tempo, nós, profissionais de saúde, assim como a população em geral, colocávamos muito a ênfase no diagnóstico e no tratamento farmacológico, mas pouco nos preocupávamos com as competências que as pessoas tinham para gerir a sua doença. Na sociedade atual, torna-se fundamental que os doentes tenham competências para tomar decisões no seu dia a dia, como, por exemplo, saberem quando devem procurar ajuda, o que é normal e o que não é e como utilizar corretamente os fármacos, o que, nos doentes respiratórios, é um aspeto central”, realça.

De acordo com Miguel Padilha, a maioria dos doentes usa mal os dispositivos. “Isto continua a causa-me estupefação. Como é possível investirmos tanto dinheiro com fármacos e não garantirmos que os doentes os utilizam corretamente? Muitas vezes os doentes não aderem porque ninguém lhes ensinou. Este ponto seria relativamente fácil de resolver com baixo investimento e mais rapidamente poderia trazer grandes ganhos em saúde”, considera.

A educação e a simulação em saúde são outras áreas em que investiga, tendo participado no desenvolvimento de um simulador clínico virtual para formação e treino de competências de futuros enfermeiros, integrado no Body Interact e juntamente com a empresa Take the Wind.

Embora tenha ingressado no CINTESIS como investigador integrado do grupo de investigação NursID, assumiu recentemente a liderança de um novo grupo de investigação da Unidade precisamente nestas áreas, à frente de uma equipa multidisciplinar que inclui médicos, engenheiros, psicólogos. “Foi um desafio que eu aceitei com naturalidade. Esperamos construir um projeto comum que permita potenciar a investigação na simulação e nas tecnologias de educação em saúde, algo que é absolutamente central no treino dos profissionais de saúde”, entende.

Depois de fazer um diagnóstico da situação e estabelecer áreas prioritárias de atuação, o grupo prevê arrancar em força em 2019. “Estamos a criar as raízes, os alicerces para que este grupo perdure e contribua para melhorar a qualidade do ensino na área da saúde”, remata.

Ambição a 1 ano?

No imediato, pretendo concretizar o projeto ECARE-COPD – Promoção da Autogestão na DPOC, que tem como parceiros a ESEP e a Take the Wind e que integra investigadores do CINTESIS. Financiado pelo Portugal 2020, o projeto é centrado na capacitação dos enfermeiros para ajudarem os doentes na autogestão da doença. É essencialmente um programa formativo de desmaterialização do ensino, assente numa perspetiva de educação do futuro, menos centrada na escola e mais centrada na competência individual do estudante.

Ambição a 10 anos?

Quando este projeto estiver concluído, inicia-se um projeto macro de desmaterialização do ensino e da simulação. Também quero continuar a dedicar-me à gestão da DPOC, que é uma prioridade nacional em termos de saúde pública. A DPOC afeta 14,2% da população portuguesa, mas é uma doença subdiagnosticada, subtratada e pouco valorizada que continua a ter um impacto brutal nos doentes e no Sistema Nacional de Saúde. Continuamos a precisar de muita investigação e de uma mentalidade diferente para abordar a problemática.

Que vida além da investigação?

A minha família é a minha prioridade absoluta – as minhas duas filhas, a minha mulher, a minha mãe e os meus sogros -, embora nem sempre consiga dedicar-lhes o tempo que desejaria.

Gosto muito de correr e de andar de bicicleta, sempre ao ar livre. Não consigo estar fechado. Muitas vezes, o tempo não permite, mas é absolutamente essencial para manter o equilíbrio. Este é também um momento em que tomo muitas decisões e resolvo muitos problemas porque consigo abstrair-me de tudo.