Investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde propõem uma melhoria da classificação dos subtipos (fenótipos) da doença alérgica respiratória, tal como a asma, doença que afeta cerca de 700 mil pessoas em Portugal.

O trabalho, intitulado “Disentangling the heterogeneity of allergic respiratory diseases by latent class analysis reveals novel phenotypes” e publicado na prestigiada revista científica Allergy, tem como objetivo permitir uma caracterização mais adequada do perfil individual de cada doente, contribuindo assim para uma personalização das estratégias de prevenção e tratamento.

Uma das principais novidades da nova classificação é a inclusão dos sintomas oculares, nomeadamente o lacrimejo e a comichão no olho, como verdadeiros “sinais de alarme”, sendo essenciais na identificação dos diferentes subtipos de doença respiratória alérgica.

“Os sintomas oculares podem estar presentes nas diferentes formas de doença respiratória alérgica mas atingem principalmente os doentes mais graves. No entanto, estes sintomas são muitas vezes subvalorizados quer pelos profissionais quer pelos próprias pessoas”, afirma a investigadora Rita Amaral, investigadora do CINTESIS e primeira autora deste estudo, coordenado por João Fonseca, investigador principal do CINTESIS e diretor do Departamento Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde (MEDCIDS) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Os investigadores propõem também o abandono da lógica de “one-size-fits-all” e privilegiam uma lógica de “multimorbilidade”, que considera não só a coexistência de várias doenças relacionadas na mesma pessoa, mas também as possíveis interações e ligações entre os mecanismos fisiopatológicos subjacentes.

Para chegarem a estas conclusões, os cientistas utilizaram técnicas de ciência de dados, incluindo técnicas de data mining e abordagens “data-driven” (análise não-supervisionada de dados), salientando a importância da matemática avançada aplicada à medicina, visto que as abordagens convencionais de classificação/estratificação da asma “falham” muitas vezes a identificação de subtipos mais complexos.

No futuro, os autores recomendam a realização de estudos longitudinais que incluam dados dos doentes recolhidos no dia a dia, designadamente dados dos registos de doenças, como o Registo de Asma Grave (asmagrave.pt), que facilitam a recolha, monitorização e partilha de dados, e dados recolhidos em aplicações móveis, cada vez mais populares entre o público em geral, doentes e clínicos.

A asma constitui um importante problema de Saúde Pública a nível mundial, afetando pessoas de todas as idades e apresentando custos avultados para os sistemas de saúde e para os próprios doentes e familiares. De acordo com outro estudo coordenado por João Fonseca, estima-se que asma custe ao Estado português cerca de 550 milhões de euros por anos – 929 euros por criança e de 708 euros por adulto, valores que duplicam quando falamos de doentes com asma não controlada.