Carla Sá Couto, investigadora do Centro Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), Unidade de I&D da Universidade do Porto, é a nova presidente da Comissão Científica da SESAM – Sociedade Europeia de Simulação Aplicada à Medicina. “Este convite é uma honra”, afirma a investigadora, que irá agora constituir a equipa que deverá acompanhá-la nestas novas funções à frente daquele organismo internacional com 23 anos de existência.
Os objetivos da nova liderança da SESAM passam por promover o reconhecimento da associação fora da Europa, e continuar a trabalhar na estandardização de processos, bem como estimular a entrada de outras especialidades na simulação. “A SESAM tem de ter abertura para atrair outras especialidades, para além da Medicina e da Enfermagem, que podem beneficiar da simulação. No Congresso deste ano tivemos várias submissões, por exemplo, na área da Saúde Mental”, aponta a nova responsável.
Carla Sá Couto é uma especialista com um extenso currículo na área da simulação, com um “background” científico que inclui vários trabalhos desenvolvidos como investigadora do CINTESIS. Entre os projetos apresentados no último Congresso da SESAM, que se realizou em junho, em Paris, está o CPR – Personal Trainer, desenvolvido no âmbito desta Unidade de I&D da U.Porto.
“No ano passado, apresentámos o protótipo. Este ano apresentámos já alguns resultados de um estudo que fizemos para validar esta ferramenta. Este é um dos projetos que tem vindo a crescer, mas há outros, como a implementação da simulação como ferramenta de avaliação educativa e a criação de novas unidades curriculares na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto”, explica a investigadora do CINTESIS, que é também a atual diretora do Centro de Simulação Biomédica da Faculdade de Medicina da U.Porto.
Carla Sá Couto está igualmente a desenvolver projetos relacionados com o treino de competências de comunicação clínica e de comunicação em equipas de saúde, no sentido de promover a aquisição de competências que permitam otimizar a prestação dos cuidados e aumentar a segurança do doente.
A nomeação de Carla Sá Couto para a SESAM surge numa altura em que o reconhecimento da simulação como uma ferramenta pedagógica, de treino e de avaliação é “inegável”. Como frisa, “a simulação é mais do que simuladores e tecnologia. É, na realidade, uma técnica pedagógica que inclui tudo o que se possa utilizar para mimetizar o evento real, de forma imersiva, simulando situações tão variadas como um encontro entre um médico e um doente ou uma situação de emergência em que toda uma equipa multiprofissional é desafiada a gerir um evento crítico. É possível combinar o uso de simuladores com pacientes estandardizados (atores) para tornar o cenário mais realista e permitir o treino de outras competências além das técnicas.
Em suma, “a simulação passou do treino das competências técnicas para as competências não-técnicas, como a liderança, a comunicação e o trabalho de equipa. O próximo passo é a utilização da simulação no estudo e organização dos sistemas de saúde e fluxos de trabalho em larga escala. Esta aplicação permite identificar lacunas nos sistemas de saúde, tornando-os mais seguros e eficientes”.
Há já um conjunto de estudos a nível europeu que validam a o treino com simulação, mostrando impacto positivo no doente. “Há um estudo que mostra um decréscimo de 50% nos casos de encefalopatia neonatal após mais 80% dos profissionais de um bloco de partos ter recebido treino com simulação em emergência obstétrica”, recorda. A propósito, recorde-se que investigadora foi uma das responsáveis pelo nascimento de um simulador de partos (Lucina ChildBirth Simulator), comercializado pela CAE Health Care em todo o mundo.