Um estudo da autoria de Carla Rêgo, investigadora do CINTESIS, considera urgente a adoção de recomendações nutricionais para as crianças e os adolescentes portugueses por parte das autoridades de saúde e das unidades de investigação nacionais.
Atualmente, não existem recomendações nutricionais específicas para o nosso país, o que faz com que não haja uniformidade na prática clínica e no desenvolvimento de estudos sobre a adequação nutricional de indivíduos e da população.
Publicado numa edição recente da Acta Portuguesa de Nutrição, o artigo de revisão identifica várias discrepâncias entre as recomendações de três comités internacionais (Food and Nutrition Board/Institute of Medicine, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura/Organização Mundial da Saúde e Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar/Comissão Europeia).
As principais disparidades verificam-se em relação, designadamente, aos consumos máximos de hidratos de carbono, proteínas e vitaminas, com potenciais consequências no crescimento e no desenvolvimento da população em idade pediátrica (entre os 0 e os 18 anos de idade).
“No que se refere aos hidratos de carbono, a OMS apresenta valores mais elevados, ainda que este mesmo comité apresente a recomendação mais baixa para os açucares. É também a OMS que apresenta as recomendações mais elevadas para a vitamina A e ferro e as mais baixas para a vitamina D”, nota a pediatra.
Relativamente ao consumo de açúcar, por exemplo, o FNB/IOM aponta um limite máximo diário 25% do total da energia consumida, enquanto a FAO/OMS sugere um consumo inferior a 10% do total da energia consumida diariamente.
A investigação aponta ainda para várias lacunas nas recomendações nutricionais, como a inexistência de limites mínimos e máximos para vários nutrientes, como fibra, flúor, crómio, sódio ou potássio.
Segundo a investigadora do CINTESIS, “a abrangência das recomendações da OMS, dando particular atenção aos países subdesenvolvidos, em contraponto à especificidade das recomendações da EFSA/CE (Europa), poderá justificar algumas destas diferenças”.
Embora as recomendações norte-americanas/canadianas (FNB/IOM) sejam as mais utilizadas, a investigadora sugere a adoção das recomendações da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar/Comissão Europeia (EFSA/CE), uma vez que “são dirigidas à população europeia, apresentam solidez metodológica, são recentes e são constantemente atualizadas e revistas”.
Carla Rêgo é pediatra e investigadora do CINTESIS, integrando o ProNutri – The Clinical Nutrition and Disease Programming, além de vice-presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), fundadora e presidente do Grupo Nacional de Estudo e Investigação em Obesidade Pediátrica (GNEIOP). Atualmente, preside ainda à Health4moz – Health for Mozambican Children and Families.