Uma equipa de investigadores do CINTESIS foi distinguida com a Bolsa Emílio Peres da Sociedade Portuguesa de Diabetologia. A bolsa, no valor de cinco mil euros, visa financiar um projeto que pretende avaliar se o consumo de cerveja sem álcool pode ter um impacto positivo nos pacientes com diabetes.
“Dado que a cerveja é uma bebida fermentada rica em polifenóis que, em estudos pré-clínicos, melhoraram a sensibilidade à insulina, este projeto pretende avaliar o efeito do consumo moderado de cerveja sem álcool nos níveis de açúcar de indivíduos com diabetes do tipo 2”, especifica Conceição Calhau, líder da linha de investigação, especialista na área de Nutrição e Metabolismo do CINTESIS e professora na NOVA Medical School, em Lisboa.
Para isso, será realizado um ensaio clínico que inclua homens e mulheres com idades entre os 40-75 anos, diagnosticados com diabetes de tipo 2.
“O microbiota intestinal constitui o conjunto de microrganismos que coloniza o intestino humano. Enquanto ecossistema em equilíbrio, o microbiota intestinal interage com o organismo hospedeiro, desempenhando diversas funções metabólicas. Por conseguinte, alterações na sua composição ou função podem estar implicadas na patogénese de diversas doenças metabólicas, como a diabetes tipo 2”, esclarece Cláudia Marques, investigadora do CINTESIS e da NOVA Medical School, que coordenará os trabalhos.
“A alimentação é o fator que mais influencia a composição do microbiota intestinal. Estudos anteriores mostram que modificações nos hábitos alimentares levam a alterações visíveis na composição do microbiota intestinal logo após 24 h”, acrescenta Eva Lau, endocrinologista, membro do CINTESIS e docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que fará as consultas aos diabéticos.
O lúpulo, uma planta utilizada pela indústria cervejeira que confere o gosto amargo à cerveja, é rico em polifenóis, como o xanto-humol, que apresenta diversos benefícios para a saúde. Resultados obtidos em estudos pré-clínicos revelaram que o xanto-humol atenua a hiperglicemia.
Contudo, a evidência científica sobre os efeitos do consumo de cerveja no metabolismo e na microbiota intestinal é escassa e, na sua maioria, suportada apenas por estudos em modelos animais ou in vitro. “Com este estudo em humanos, pretendemos obter conclusões mais sólidas sobre a utilidade do consumo de cerveja sem álcool nos diabéticos”, conclui Conceição Calhau.
A equipa de investigação inclui ainda André Rosário, Diana Teixeira, Diogo Pestana, Ana Faria e Davide Carvalho. Os doentes serão recrutados no Hospital de São João do Porto e as análises à microbiota serão realizadas na NOVA Medical School – Universidade NOVA de Lisboa.