O número de hospitalizações em pacientes com demência aumentou cinco vezes entre 2000 e 2014, em Portugal. Nesse período, registaram-se 288 mil entradas nos hospitais públicos nacionais, o que corresponde a cerca de 5% de todas as hospitalizações entre pessoas com 60 anos ou mais. As conclusões são de estudo realizado no CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.
Publicado na revista científica Archives of Gerontology and Geriatrics, o estudo fez uma análise retrospetiva das admissões hospitalares em pacientes com demência durante 15 anos (de 2000 a 2014), usando, para isso, os registos clínicos de todos os hospitais públicos de Portugal continental. Os dados, cedidos pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), foram previamente anonimizados.
Os resultados revelaram que a taxa de hospitalização em doentes com demência duplica a cada cinco anos, sendo as principais causas de hospitalização nestes doentes as infeções respiratórias, como a pneumonia (21%), e as infeções do trato urinário (9%).
“O trabalho dá-nos conta da existência de uma prevalência elevada de hospitalizações de pacientes com demência no nosso país, especialmente quando falamos de doentes com 60 ou mais anos”, explica Alberto Freitas, investigador do CINTESIS e coorientador deste trabalho, salientando a sobrecarga que estas hospitalizações exercem sobre o Sistema Nacional de Saúde.
De facto, este estudo revela que, em média, estes pacientes ficam internados oito dias e que mais de 95% dos episódios de recurso ao hospital em pacientes com demência são situações de emergência. No entanto, “a maioria das causas de hospitalizações de pessoas com demência podem ser prevenidas e geridas de forma eficiente em ambulatório”, explica o neurologista João Massano, médico no Centro Hospitalar de São João e coautor desta investigação.
Catarina Bernardes, autora principal do trabalho, destaca as disparidades regionais que este trabalho pôs a descoberto. “A análise dos dados permitiu verificar que as taxas de hospitalização em pacientes com demência são três vezes maiores em Vila Real do que em Évora e Beja, por exemplo”, constata, sublinhando a necessidade de alocar mais especialistas em psiquiatria e neurologia nesses pontos do país. “No Alentejo, por exemplo, há duas vezes menos consultas de psiquiatria por habitante do que no Norte do país”.
Os especialistas chamam a atenção para o facto de a utilização dos serviços de consulta em ambulatório poder ser otimizada. “Estes serviços poderiam exercer um papel mais ativo na prevenção, no diagnóstico atempado e na gestão pós-hospitalização dos vários tipos de demência, incluindo nos cuidados de saúde primários, desde que os serviços fossem devidamente preparados para o efeito”, especifica João Massano, uma vez que em até 94% dos casos os pacientes recebem alta sem a instituição de cuidados formais.
Outra das soluções apontadas pela equipa de investigação é a criação de campanhas de saúde que promovam a prevenção da demência através do controlo de fatores de risco vascular. “Temos uma prevalência muito elevada de demência vascular em Portugal, que poderia ser reduzida se promovêssemos medidas como a cessação tabágica, a redução do consumo de açúcar (incluindo refrigerantes), a redução do consumo de álcool, a diminuição do consumo de gorduras saturadas e o aumento dos níveis de exercício físico diário”.