Imagine uma tecnologia capaz de realizar os vários testes de despiste de doenças infeciosas recomendados na gravidez a partir de uma gota de sangue obtida através de uma simples picada no dedo. Pois essa tecnologia já existe.
Em desenvolvimento pela investigadora do CINTESIS Ana Luísa Neves, o Momoby acaba de vencer prémio de inovação no concurso IDEA INCUBATOR, tendo ficado em terceiro lugar, à frente de dezenas de invenções originais, produtos e dispositivos desenvolvidos por inovadores e empreendedores de várias partes do mundo.
A competição inseriu-se na IDWeek, que se realizou na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos da América, entre os dias 3 e 7 de outubro. A IDWeek 2018 – Advancing Science, Improving Care, considerada como uma das maiores conferências mundiais sobre doenças infeciosas, junta anualmente os maiores especialistas e sociedades científicas desta área, nomeadamente a Infectious Diseases Society of America, a Society for Healthcare Epidemiology of America e a HIV Medicine Association and Pediatric Infectious Diseases Society.
De acordo com a investigadora , “o protótipo consiste numa picada de dedo que permite a realização dos testes infeciosos fundamentais recomendados durante a gestação, em tempo real”. Desta forma, o Momoby “vem solucionar um problema encontrado, por exemplo, em pequenas vilas no interior de Moçambique, em que as mulheres tinham de se deslocar durante longas horas até um hospital, onde pudessem realizar esses rastreios”.
Embora em Portugal e na generalidade dos países desenvolvidos todas as mulheres grávidas realizem este tipo de rastreios periodicamente e de forma gratuita, as mulheres grávidas de países em vias de desenvolvimento não têm a mesma oportunidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todas as grávidas devem fazer testes de VIH, sífilis e hepatite B. No entanto, a realidade está longe de corresponder às recomendações. Anualmente, calcula-se que quase 300 mil mulheres morram devido a problemas relacionados com doenças infeciosas durante a gravidez.
Como médica voluntária em África, designadamente no Senegal, Guiné-Bissau e Moçambique, Ana Luísa Neves testemunhou as dificuldades das comunidades isoladas onde as mulheres não têm acesso a rastreios para estas doenças.
O objetivo do Momoby é chegar a todas as mulheres grávidas, uma vez que é simples, rápido e pode ser facilmente transportado para qualquer lugar, permitindo fazer o diagnóstico imediatamente e enviar os casos problemáticos para tratamento. Este simples gesto será capaz de reduzir a transmissão de doenças infeciosas das mães para os bebés em mais de 95%.
Ana Luísa Neves é investigadora do CINTESIS, bem como investigadora associada no Centre for Health Policy do Imperial College London e docente voluntária no Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde – MEDCIDS/FMUP. Ao longo dos últimos anos tem reunido diversos prémios e distinções. Em 2018 o Momoby, de que é CEO, já havia ganho um outro prémio, no Venture Catalyst Challenge (VCC).