Sacos cheios de caixas de comprimidos, efeitos secundários, acesso insuficiente aos cuidados de saúde ou aos medicamentos, o reduzido tempo das consultas, doenças como a depressão, seguimento desadequado e fraca adesão à terapêutica: estes são alguns dos fatores-chave para a falta de controlo da hipertensão arterial, o mais importante fator de risco cardiovascular em Portugal e no mundo.
Estes aspetos relacionados com a adesão à terapêutica são apontados por Ana Correia Oliveira e Paulo Santos, investigador do CINTESIS – Centro de Informação em Tecnologias e Serviços de Saúde num trabalho recentemente publicado no Journal of Hypertension and Management.
O objetivo da investigação era rever, de forma crítica, os principais determinantes que interferem com a não adesão à terapêutica, bem como as estratégias possíveis para controlar a hipertensão arterial, problema que afeta 42,2% dos portugueses com mais de 18 anos de idade (44,4% dos homens e 40,2% das mulheres) e 31% da população a nível mundial.
Para o investigador do CINTESIS, “os clínicos têm um papel importante na não adesão”, por exemplo, “quando prescrevem esquemas complexos com vários medicamentos, quando não explicam bem os seus benefícios e os seus riscos [como fadiga, dores de cabeça, edema, tosse, aumento da frequência urinária, alterações metabólicas e disfunção sexual] e quando não têm em conta os custos para os doentes”.
Paulo Santos indica várias medidas suscetíveis de melhorar o controlo da pressão arterial, como usar associações fixas (um ou mais princípios ativos num só comprimido) e simplificar os esquemas terapêuticos.
Neste âmbito, é fundamental “negociar as melhores opções e estabelecer um bom canal de comunicação com os doentes, partilhando informação em tempo real”. O responsável chama a atenção, a propósito, para a importância de aumentar a literacia de saúde da nossa população.
De acordo com o especialista em Medicina Geral e Familiar, “a evidência mostra que 25% dos doentes não compram os medicamentos prescritos pelo médico e que 10% se esquecem de os tomar diariamente”. Além disso, “um terço dos doentes abandonam o tratamento após seis meses e metade, após um ano”.
No total, mais de 45% dos doentes não aderem à medicação. Nos doentes com hipertensão não controlada, essa percentagem ultrapassa os 83%. Os homens, os mais novos e os doentes com depressão e doença cardíaca são os que mais falham o tratamento.