“É preciso prestar apoio psicológico especializado e individualizado aos pacientes que são confrontados com um diagnóstico de cancro”. Quem o diz é um grupo de investigação do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Universidade de Aveiro, que vai organizar o I Congresso Nacional de Investigação Científica em Oncologia Psicossocial – ICOP em março de 2019, em Aveiro.
A equipa, que está a desenvolver vários trabalhos com o intuito de perceber qual a informação e o apoio que os pacientes com cancro recebem, assim como de identificar necessidades ainda por explorar, pretende reforçar a importância da Psico-Oncologia em Portugal através da partilha de conhecimentos e de experiências.
É reconhecido, a nível internacional, que os pacientes com cancro são sujeitos a uma elevada dor emocional e sofrimento. A intervenção no cancro deve assim considerar os vários domínios da vida da pessoa, potenciando melhorias na qualidade de vida. Em particular, os pacientes com cancro experienciam elevado sofrimento emocional que justifica a prevalência de perturbações psiquiátricas nesta população.
Estudos demonstram a necessidade de identificar os indicadores de ajustamento emocional, necessidades e desafios que os pacientes com cancro enfrentam desde o momento do diagnóstico, passando pelo tratamento, até aos cuidados paliativos. Desta forma, a Oncologia Psicossocial ou Psico-Oncologia surge como um novo campo de tratamento.
“Contudo, a inclusão da Oncologia Psicossocial no tratamento efetivo do cancro apresenta algumas fragilidades a nível mundial. Em algumas regiões, a prestação dos cuidados continua a assumir uma abordagem predominantemente biomédica no atendimento ao paciente”, alerta a equipa de investigação do CINTESIS.
Os cuidados de saúde prestados aos pacientes oncológicos devem ser multidisciplinares e incluir o aspeto psicossocial da experiência do paciente. “Os pacientes com cancro não apresentam apenas problemas relacionados com a saúde física, mas também psicológicos, sociais e questões existenciais que podem comprometer o seu bem-estar. O sofrimento emocional afeta os pacientes e a sua resposta ao tratamento, pelo que é necessário intervir”, explica Ana Bártolo, membro da organização.
Uma doença com risco de vida, como o cancro, terá definitivamente consequências emocionais. A tristeza pode ser uma resposta normal ao diagnóstico de cancro, no entanto, o stress além dos mecanismos de enfrentamento dos pacientes pode originar uma depressão.
É para consciencializar para esta problemática que se realizará o ICOP. “Com o ICOP queremos divulgar projetos de investigação e de intervenção na área de Oncologia Psicossocial contando com a participação de diferentes instituições de ensino e unidades de investigação, sem perder de vista uma abordagem holística ao doente oncológico”, explica Sara Monteiro, que é também professora da Universidade de Aveiro.
O objetivo é “proporcionar um momento de partilha de conhecimento científico, de âmbito nacional, focado na adaptação psicossocial e reabilitação na doença oncológica”, contando com conferencistas convidados de renome, adianta Isabel Monteiro, que integra a comissão organizadora do ICOP
Luzia Travado, da Fundação Champalimaud, é uma das oradoras já confirmadas. A especialista em Psicologia da Saúde, vai falar sobre o papel e dos desafios da Psico-Oncologia na melhoria dos cuidados oncológicos. As questões relacionadas com o Bem-estar e a qualidade de vida em sobreviventes de cancro prometem ser abordada pelo José L. Pais Ribeiro, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Isabel Leal, especialista do ISPA, também vai marcar presença, numa alocução sobre o crescimento pós-traumático na doença oncológica.
Neste momento, a organização apela à submissão de resumos (até 30 de novembro) por parte de todos os profissionais que trabalham ou querem contribuir cientificamente para a melhoria da prestação de cuidados nesta área, sejam médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, ou outros.