Pedro Pereira Rodrigues, investigador do CINTESIS e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), foi um dos especialistas que contribuíram para a elaboração do relatório “Digital technologies for key public health functions: Results of an ECDC expert consultation”.
Publicado neste mês de novembro, o relatório do European Centre for Disease Prevention and Control – ECDC é o culminar de uma série de workshops desenvolvidos para discutir o uso das tecnologias digitais para fins de Saúde Pública.
O convite ao investigador Pedro Pereira Rodrigues partiu de Helena de Carvalho Gomes, do ECDC, coordenadora dos workshops realizados e responsável pelo relatório.
O objetivo deste documento era recolher o contributo dos cientistas e da literatura sobre as tecnologias digitais e o seu potencial de utilização em áreas-chave da Saúde Pública, com o foco na vigilância, prevenção e controlo de doenças infeciosas.
“As tecnologias digitais são de importância extrema para uma rápida avaliação de situações graves de Saúde Pública, ao permitirem o registo de – e acesso a – dados de eventos, surtos e transmissão de doenças infeciosas, de forma mais célere e interpretável, desde que devidamente integradas e interoperáveis”, explica.
Numa altura em que a transformação digital dos serviços e cuidados de saúde estava já na agenda política, a pandemia de COVID-19 veio dar maior visibilidade à área da Saúde Pública Digital e criar novas oportunidades na definição de investimentos.
De acordo com Pedro Pereira Rodrigues, “a Saúde Pública é a linha da frente do combate informacional à pandemia a nível mundial, ao procurar identificar e rastrear os contactos e linhas de transmissão. No entanto, ficou claro que, mesmo a nível europeu, as deficiências dos sistemas de informação (quando os havia) não escalavam para a dimensão necessária de uma pandemia, sendo orientados para surtos locais e muito pouco para avaliações globais da situação”.
Assim, em seu entender, “a Saúde Pública Digital terá necessariamente que se tornar mais robusta e responsabilizante, mas, de qualquer forma, deverá ser um dos focos de investimento e desenvolvimento tecnológico para que não seja novamente ultrapassada pela realidade”.
Os participantes sublinharam alguns pontos fundamentais, nomeadamente a necessidade de fomentar as competências digitais, de promover as parcerias multidisciplinares para obtenção de soluções holísticas e integradas e de garantir a comunicação e o envolvimento dos parceiros (profissionais, doentes, comunidades e o público).
Outros pontos envolvem a estandardização e interoperabilidade dos sistemas, a definição de uma estratégia transparente e segura sobre a utilização dos dados, a monitorização e avaliação das intervenções existentes.
“Em Portugal, em particular, julgo que o conceito de doença de comunicação obrigatória (atualmente em vigor para doenças infeciosas) que deve, por isso, ser comunicada no sistema central, deveria ser ligeiramente alterado para doença de monitorização pública em tempo real”, propõe.
Conforme sublinha, “só assim conseguiríamos forçar os sistemas antigos a adaptarem-se (e os novos a prepararem-se) para a integração e interoperabilidade necessárias na reação a uma nova possível pandemia”.