Uma equipa de investigadores portugueses arrecadou 2,1 milhões de euros para desenvolver um novo tratamento contra tumores avançados. O projeto, pioneiro em Portugal, junta a empresa portuguesa Stemmaters, o Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto), a NOVA School of Science and Technology da Universidade NOVA de Lisboa (FCT NOVA) e o CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde. O consórcio procura associar a utilização das promissoras vacinas antitumorais de células dendríticas com anticorpos para tratamento de tumores sólidos.
Numa altura em que os dados disponibilizados pela Direção Geral de Saúde revelam que a incidência das doenças oncológicas tem aumentado em Portugal, a par da mortalidade, torna-se crucial desenvolver novos tratamentos que possam mostrar-se eficazes nos casos mais difíceis e, até, abrir uma janela de esperança no caso dos cancros considerados incuráveis.
Foi com intenção de explorar uma nova solução que a empresa e os investigadores portugueses se juntaram em torno do projeto DCMATTERS – Combinação de vacina de células dendríticas com inibidores de checkpoint imunitário como terapia de primeira linha em doentes com neoplasias malignas sólidas.
As vacinas antitumorais baseadas em células dendríticas constituem uma “imunoterapia atrativa, devido à capacidade única destas células para ativar linfócitos T citotóxicos com atividade contra células tumorais e induzir resposta imunológica, protegendo os doentes da progressão tumoral e possíveis recidivas”, explica Júlio Oliveira, do IPO-Porto. No entanto, estudos recentes revelam que apenas 10 a 25% dos doentes responde bem a esta abordagem terapêutica.
Por isso, a equipa de investigadores decidiu testar a utilização de vacinas baseadas em células dendríticas em associação com o uso de outros fármacos já bem conhecidos – os anticorpos inibidores de checkpoints imunitários. Espera-se que a combinação das duas estratégias de combate ao cancro crie uma sinergia terapêutica que resulte em maiores benefícios para os pacientes.
O DCMATTERS explora “um novo paradigma de combate ao cancro, combinando tecnologias de manipulação de células do sistema imunitário e de bloqueio dos mecanismos de controlo da resposta imunitária, com vista ao desenvolvimento de uma nova abordagem imunoterapêutica para tratamento de tumores sólidos”, explicam os investigadores.
A nível industrial, o projeto vai permitir desenvolver e fabricar uma terceira geração de células dendríticas com maior capacidade de indução de resposta antitumoral. A nível clínico, será desenhado um ensaio clínico fase I da terapia combinada em regime de primeira linha (em doentes já candidatos para tratamento com inibidores de checkpoints imunitários).
Desta forma, o projeto promete estabelecer, de forma pioneira em Portugal, “capacidade de fabrico industrial de novas imunoterapias celulares, contribuindo para o desenvolvimento clínico de imunoterapias inovadoras no nosso país”, sintetiza Rui Sousa, coordenador do projeto e diretor executivo da Stemmatters.
O projeto DCMATTERS conta com uma equipa de investigadores multidisciplinar composta por cientistas e clínicos de quatro entidades portuguesas. É financiado pelo programa Portugal 2020.