Ana Reynolds é investigadora integrada do CINTESIS, no grupo de investigação SPA – Signal Processing Applications, assim como Professora Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), sendo corregente da unidade curricular de Ginecologia e Obstetrícia do 5º ano do MMED e regente da opcional de Planeamento Familiar.
Nasceu em Ponte de Lima, onde viveu até aos oito anos. Entre os oito e os doze anos, estudou no Porto, onde havia de regressar para fazer o curso de Medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. “Sempre quis ser médica, desde pequenina, embora seja de uma família de pessoas de Letras”, conta.
Licenciou-se em Medicina pela FMUP em 1995. Durante o internato da especialidade, que realizou no CHUSJ, foi mãe. “Tive dois filhos durante o internato. Apresentei-me como parturiente no primeiro dia do internato da especialidade, o que não deixa de ser uma coincidência curiosa. Fui para a sala de partos não como interna, mas para dar à luz”, recorda, entre risos.
Concluiu o internato em 2005 e o doutoramento em Medicina pela FMUP em 2012, com uma tese sobre o impacto do treino do intraparto, usando técnicas e tecnologias de simulação aplicadas ao ensino em saúde. Fez uma pausa entre 2012 e 2015 para correr mundo. Foi à Guiné-Bissau em 2014, pela primeira vez, como voluntária, no âmbito do Programa Integrado de Melhoria da Saúde Materno-Infantil (PIMI I), depois de ter visto um anúncio no site da Ordem dos Médicos. Esteve dois meses naquele país, onde se deparou com uma realidade “dura”.
“A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau rondava, em 2012, as 1000 mortes por cada 100 mil nados-vivos. As mulheres não recorriam às unidades sanitárias para vigilância pré-natal ou mesmo para dar à luz, provavelmente por questões familiares, culturais ou religiosas, mas também porque não tinham condições económicas”, observa.
Entre 2014 e 2015, colaborou como Coordenadora Pedagógica do CESIMED noutros projetos de redução da mortalidade materna, mais concretamente na Ucrânia e na Moldávia, executados pela Swiss Tropical and Public Health Institute. Na Guiné-Bissau, tem colaborado com o Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF), uma Organização Não Governamental de Cooperação para o Desenvolvimento (ONGD), no PIMI.
“É muito importante as pessoas saírem da sua zona de conforto. Esses três anos foram, para mim, muito gratificantes. Tive oportunidade de aplicar tudo o que aprendi. Regressei a Portugal em 2015 ainda com mais questões e com mais projetos”, recorda.
No PIMI I foi responsável pelo desenvolvimento, organização metodológica e lecionação da formação de longa duração em Cuidados Obstétricos e Neonatais de Urgência (CONU), que recorre a técnicas/tecnologias de simulação aplicada à Medicina.
Na sequência desta sua experiência, publicou na Revista Acta Médica Portuguesa, em 2015, em coautoria com João Bernardes, também professor da FMUP e investigador do CINTESIS, o referido programa de formação desenvolvido para capacitação dos profissionais de saúde que prestam assistência à gravidez, parto e pós-parto, desenhado para atender aos objetivos do projeto.
Haveria de voltar à Guiné-Bissau no âmbito do PIMI II – Programa Integrado para Redução da Mortalidade Materna e infantil e, recentemente, no âmbito do PIMI III – Apoiar a Saúde Reprodutiva, Materna, Neonatal e Infantil rumo a um Sistema Universal de Cobertura de Saúde na Guiné-Bissau, assumiu a Coordenação Clínica. O regresso aconteceu após a celebração de um protocolo de cooperação entre a FMUP e o IMVF, ONGD responsável pela implementação do PIMI no terreno. O objetivo continua a ser reduzir as taxas de mortalidade materna e das crianças até aos cinco anos através da capacitação de profissionais, disponibilização e distribuição de fármacos e consumíveis e de muitas outras atividades que permitem garantir a prestação de cuidados de qualidade à população-alvo a nível nacional (centros de saúde e hospitais).
Ambição a 1 ano?
A nível de investigação, estou empenhada na implementação de programas educativos no intraparto, da telemedicina e do ensino a distância, nomeadamente com a Guiné-Bissau.
Ambição a 10 anos?
O que mais me motiva é fazer alguma coisa pelas mulheres, reduzindo a mortalidade materna evitável. Tenho essa vontade, essa disponibilidade e essa oportunidade, agora a nível institucional, o que me deixa muito feliz.
Vida para além da docência e da investigação?
Aproveito os meus tempos livres para estar com pessoas, para conversar, para caminhar e para ver filmes ou assistir a eventos culturais que de alguma forma me sensibilizem.