Anabela Silva é investigadora integrada do grupo Ageing C, do CINTESIS, no polo da Universidade de Aveiro (UA), desenvolvendo os seus projetos e estudos essencialmente nas áreas da dor, das tecnologias e das pessoas idosas.

Nasceu em 1978, no Luxemburgo, de onde veio para Portugal com apenas quatro anos. Residiu e estudou em Pombal. Sonhava ser professora de Matemática, profissão que, naquela altura, não era muito popular. “Sempre gostei mais dos números do que das palavras. Sou muito feliz com uma base de dados [risos]. Sempre tive tendência para as áreas mais exatas”, conta.

Fez o curso de Fisioterapia na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, em 2000, o mestrado em Biocinética do Desenvolvimento Motor na Universidade de Coimbra, em 2003, e o doutoramento em Fisioterapia na Leeds Metropolitan University, no Reino Unido, em 2009.

“A Fisioterapia não era a minha primeira opção, nem a segunda, nem a terceira. Foi um pouco por acaso. Em conversa, disseram-me para escolher Fisioterapia porque seria uma profissão com futuro. A verdade é que aprendi a gostar da Fisioterapia e de trabalhar com as pessoas. Esta é uma profissão muito exigente, mas é também extremamente gratificante. As pessoas confiam em nós”, refere.

Começou a exercer atividade como fisioterapeuta durante a licenciatura (depois de terminar o bacharelato, que, na altura, dava acesso à profissão), numa clínica e numa equipa de basquetebol feminino. Em 2001, já na Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (ESSUA-UA), onde ajudou a criar a primeira licenciatura em Fisioterapia, continuou com a sua prática clínica, na Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral (APPC). Em 2002, passou a estar em exclusividade como professora na UA.

Entrou no CINTESIS em 2015 devido à necessidade de integrar os docentes da ESSUA em Unidades de Investigação. Embora já fizesse investigação desde o doutoramento, esta integração trouxe sobretudo “um suporte institucional” e “uma validação de que precisamos”. “Ter a chancela do CINTESIS e podermos dizer que somos investigadores do CINTESIS valida o que nós fazemos, dá outra credibilidade ao nosso perfil científico”, reconhece.

Atualmente, o maior projeto que tem em mãos é o SHAPES – Smart and Healthy Ageing through People Engaging in Supportive Systems, de que é Investigadora Principal na Universidade de Aveiro. Além disso, tem vários estudantes de doutoramento via CINTESIS, essencialmente em três áreas: a dor/gestão da dor crónica; a tecnologia; e as pessoas idosas.

Na área da dor, a investigadora tem diversos projetos em curso relacionados com o estudo da efetividade da educação em neurociência da dor e do exercício, a relação entre a dor crónica e a função cognitiva e a avaliação dos fatores que predispõem ao aparecimento da dor e à sua cronificação.

“O acesso a tratamentos não farmacológicos não é, ainda, para todos. E quando as pessoas têm acesso a eles, nem sempre são os mais ajustados ou aqueles que a evidência suporta. Intervenções como a educação e o exercício continuam a não estar na primeira linha, devido a um conjunto de fatores”, lamenta.

Será que o tratamento da dor é um luxo? “Um bocadinho”, responde. “Quem precisa continua demasiado tempo à espera da intervenção adequada e nós sabemos que quanto mais tempo medeia entre o início da dor e o tratamento adequado, mais difícil é conseguir ganhos. É necessário fazer, à partida, uma triagem adequada e ajustar a intervenção às características das pessoas e da sua dor, o que ainda não é habitual”, lamenta.

Na área da tecnologia, destaca-se o projeto SHAPES, que está a “entrar” agora no seu quarto e último ano, tendo conclusão prevista a 31 de outubro de 2023. “O SHAPES é essencialmente sobre a adaptação da tecnologia às pessoas e sobre o papel da tecnologia na capacitação das pessoas idosas. Mais do que desenvolver tecnologia nova, pretende-se reunir numa plataforma de serviços um conjunto de recursos, facilitando o acesso ao utilizador.  Para tal, é preciso, também, avaliar a tecnologia em contexto real de utilização, identificar potenciais barreiras à sua utilização e avaliar qual o impacto que a tecnologia tem na funcionalidade, na saúde e no bem-estar da pessoa”, esclarece.

No âmbito deste projeto, a equipa de Anabela Silva tem em curso um estudo-piloto com o objetivo de avaliar a aceitabilidade e o potencial impacto da utilização de um tapete de dança e de uma interface web na função física e cognitiva de pessoas idosas da comunidade. Noutro projeto, de que faz parte, estão a desenvolver os conteúdos de um programa de exercícios para pessoas idosas, que será depois integrado numa plataforma web.

Ambição a 1 ano?

No próximo ano, quero concluir com sucesso o projeto SHAPES e outros projetos em curso e tentar identificar outros concursos para continuarmos a alavancar algumas das áreas em que estamos a trabalhar.

Ambição a 10 anos?

É muito difícil, para mim, pensar a 10 anos. Embora saiba o que gostaria de conseguir, não sei se é exequível nesse horizonte temporal. Eu gostaria de agregar um conjunto de evidência que permitisse desenhar estratégias de intervenção inovadoras para as pessoas com dor crónica e para as pessoas idosas e avaliar a mais-valia dessas intervenções. Não é só gerar conhecimento, também é preciso transferir esse conhecimento para a prática clínica. É necessário levar a evidência até às pessoas que tratam os doentes todos os dias. Sermos uma força motriz da inovação na prática clínica é algo que me parece importante.

Como passa os seus tempos livres?

Gosto de passar tempo com a família. Tentamos ir ao cinema, andar de bicicleta ao ar livre, fazer algum exercício. Não tenho um hobby especial. Gosto muito de ler, mas é uma coisa que só faço nas férias. Como tenho um estilo de vida mais sedentário, tento que os tempos livres sejam mais ativos, privilegiando a atividade física.