A disponibilização de informações de saúde de qualidade, através de auxiliares de decisão (sob diferentes formatos, como sites, apps, vídeos ou panfletos) aumenta significativamente o conhecimento dos pacientes, reduz a indecisão e fomenta um papel ativo por parte dos homens que têm de decidir se realizam ou não o PSA – uma análise que pode identificar cancro da próstata, mas que apresenta diversos riscos, como sobrediagnóstico e efeitos adversos do sobretratamento, como disfunção erétil e incontinência urinária.
Estes são os resultados de um grande estudo realizado por investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, que efetuou uma síntese estatística dos mais importantes trabalhos realizados sobre este tema. O trabalho foi publicado no Journal of Medical Internet Research, revista científica de referência na área da Informática Médica e uma das principais publicações sobre Investigação em Serviços de Saúde.
Existem situações na área da saúde que obrigam à tomada de decisões que nem sempre são fáceis. “Há casos em que as intervenções médicas apresentam uma probabilidade de causar dano semelhante, ou até superior, à probabilidade de causar benefício. Nestas situações, e para que o doente decida de um modo informado, deve ser encorajado a tomar parte no processo de decisão”, explica Carlos Martins, investigador CINTESIS que coordenou esta investigação.
Os “auxiliares de decisão” são ferramentas baseadas na evidência científica, desenhadas com o objetivo de apoiar o processo de decisão por parte do paciente, no que se refere à sua saúde. Podem ser implementados em diferentes formatos (Internet, papel, vídeo).
Neste processo de decisão médica partilhada, o doente compreende o risco e gravidade da doença a ser prevenida e é informado dos riscos, benefícios, alternativas e incertezas do teste, devendo ponderar estes dados à luz dos seus valores pessoais.
O rastreio do cancro da próstata através do PSA, dirigido a homens assintomáticos e sem fatores de risco, é uma das situações em que é advogada a decisão partilhada, uma vez que apresenta vantagens (diminuição da mortalidade, ganho de anos de vida), mas também riscos (diagnóstico de cancros que podem ser inócuos; riscos do tratamento, como disfunção erétil ou incontinência urinária).
A presente revisão sistemática e meta-análise pretendeu comparar o impacto dos auxiliares de decisão baseados na Internet com outros formatos para o apoio à decisão de rastreio do cancro da próstata. “Os resultados comprovaram que os auxiliares de decisão na Internet melhoram o conhecimento sobre o rastreio do cancro da próstata, diminuem o conflito decisional e fomentam um papel ativo do doente na decisão.”, explica Sofia Baptista, investigadora do CINTESIS e primeira autora deste trabalho.
Embora os resultados revelem um desempenho semelhante dos diferentes formatos, Carlos Martins considera que os auxiliares de informação baseados em ferramentas web poderão ser os mais indicados para aumentarem a capacidade de os homens participarem no processo de decisão relativamente à realização do teste PSA, de forma fácil, anónima e com baixo custo. “Precisamos de apostar na criação de sites com informação médica de alta qualidade, mas que seja suficientemente clara e concisa para ser apreendida pelos pacientes”, propõe o especialista do CINTESIS.
Para além de Carlos Martins e Sofia Baptista, este estudo contou com a colaboração dos investigadores Elvira Teles Sampaio (do Agrupamento de Centros de Saúde Porto Ocidental), Bruno Heleno (da Universidade NOVA de Lisboa) e Luís Filipe Azevedo (do CINTESIS).