Catarina Rosa é investigadora do CINTESIS/Universidade de Aveiro desde 2013, integrando o grupo AgeingC, onde se tem destacado pela investigação na área das estratégias desadaptativas de regulação emocional, nomeadamente na ruminação, e, mais recentemente, num projeto sobre crimes de ódio ideologicamente motivados.
Nasceu há 44 anos, em Coimbra, mas viveu a maior parte da sua vida em Aveiro. Pessoalmente, diz-se “um ser de relação”. A nível académico, ingressou na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, tendo concluído a licenciatura em 2002, tendo-se especializado em Terapia Familiar e de Casal. Em 2003, iniciou doutoramento na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, com financiamento pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tendo estudado a regulação da identidade em casais em diferentes momentos do ciclo conjugal.
Sempre sentiu necessidade de investigar, mas de ir ao terreno perceber a realidade. Por isso, no final do doutoramento, foi psicoterapeuta e supervisora num Centro de Acolhimento Temporário de Adolescentes, entre 2008 e 2011. No ano letivo de 2011/2012 foi professora auxiliar convidada na Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora. De 2013 a 2018 fez um pós-doutoramento em Psicologia no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, também financiado pela FCT. Desde 2019 é investigadora doutorada no mesmo Departamento e investigadora integrada no CINTESIS.
“O CINTESIS surgiu como o Centro que mais correspondia aos meus interesses, pela área clínica e da saúde, bem como, mais recentemente, pelos desafios societais. Era o Centro com o mindset mais adequado para o meu tipo de investigação”, justifica.
Como investigadora, colabora em projetos como terapeuta familiar e de casal. O seu trabalho tem como fio condutor os processos de regulação e mudança adaptativa e, mais recentemente, as estratégias desadaptativas de regulação emocional, nomeadamente a ruminação.
Atualmente, coordena o projeto de investigação “Rumination Room”, cujo objetivo é ligar dois domínios da Psicologia Experimental ou Básica (em Laboratório) e a Psicologia Aplicada, conseguindo intervenções clínicas mais eficazes na prevenção e no tratamento da doença mental.
“A ruminação pode ser descrita como uma forma de evitamento, caracterizada pelo aprisionamento em pensamentos negativos. A pessoa evita agir para não errar. Este processo está associado ao desenvolvimento e severidade das principais perturbações psiquiátricas (ansiedade e depressão), a uma má qualidade de sono e ao comprometimento na capacidade de resolução de problemas e execução de tarefas. No contexto da atual pandemia, esta estratégia desadaptativa de regulação emocional foi apontada como um dos sinais de alerta que devem ser avaliados e geridos pelos profissionais de saúde mental”, indica.
Através de estudos em laboratório, tem tentado estimular a aplicação de estratégias de redução da ruminação, nomeadamente o treino de ativação do controlo executivo para potenciar a capacidade de inibição de estímulos negativos que não são importantes para a tarefa a realizar. Estes estímulos negativos são selecionados e gravados pelos próprios participantes, expondo-os e treinando-os a inibir a sua interferência. Pretende-se agora converter estes estudos realizados em laboratório em estratégias clínicas. Neste momento, o projeto já validou uma base de estímulos positivos, negativos e neutros, em formato áudio.
Os crimes de ódio são uma outra linha relevante de investigação iniciou-se com um projeto recentemente financiado pela FCT, em que foi coinvestigadora principal. O projeto pretende contribuir para a investigação do fenómeno dos crimes de ódio ideologicamente motivados, que foi agravado pela pandemia COVID-19 e que representa uma ameaça direta aos direitos humanos, à paz e à segurança.
“O projeto pretendia fazer uma caracterização do fenómeno e saber quais os precursores dos crimes de ódio em Portugal. Destacam-se aqui dois estudos que se centraram em possíveis precursores dos crimes de ódio: os vieses implícitos (no caso, em forças de segurança portuguesas) e a polarização ideológica (no caso, na identificação da população em geral com discursos parlamentares polarizados na esfera política portuguesa)”, explica.
Além dos precursores dos crimes de ódio, a investigadora estudou fatores protetores, como a empatia. “A utilização eficaz de estratégias de regulação emocional em interligação com a capacidade de ler as emoções dos outros são fatores importantes na forma como lidamos e gerimos questões socialmente sensíveis (raça, ideologia). Quanto maior é a insegurança em relações interpessoais tensas, maior tendência para um viés. Quanto maior é a empatia, menor é a tendência para o viés”, exemplifica.
Ambição a um ano?
As pessoas vivem até cada vez mais tarde, mas cada vez com mais problemas sérios de saúde mental. Repensar as abordagens da saúde mental é um desafio a que, como investigadores, temos de responder. A continuidade da minha linha de investigação “Rumination Room” constituirá́ um importante contributo para o desenvolvimento de estratégias clínicas mais ecológicas e personalizadas, cumprindo o objetivo de desenvolver e implementar ações que aumentam o empoderamento dos indivíduos ao longo da vida. Na sequência do projeto dos Crimes de Ódio, este ano será desenvolvido um estudo para documentar a formação nas forças de segurança e desenvolver um módulo de formação orientado pelos dados encontrados sobre viés implícito.
Ambição a 10 anos?
Enfrentamos, nos dias de hoje, desafios sociais, ambientais e económicos sem precedentes e parece que a importância vital da ciência, tecnologia e inovação para responder a esses desafios nunca foi tão reconhecida. A forma como o conhecimento é produzido, distribuído e agido tem de ser reinventada para responder às emergências globais e aumentar a resiliência das sociedades. Para existir um verdadeiro impacto do que é estudado e compreendido, é fundamental envolver o público-alvo na construção do conhecimento através da vertente da open science, que é a citizen science. Para inventar novas formas inovadoras de enfrentar os desafios societais, precisamos de envolver os mais afetados, os próprios cidadãos.
Pretendo continuar a contribuir para melhorar a ligação entre ciência e sociedade, para empoderar cada pessoa e contribuir para a mudança.
Que vida para além da docência e da investigação?
Como psicóloga, sou um ser de relação e mesmo o meu tempo livre é dedicado a pessoas (família e amigos). Gosto muito de caminhar. Este ano cumpri um sonho antigo e fiz o Caminho Português de Santiago de Compostela a pé. Sempre tive uma ligação à música, fiz o curso básico do Conservatório de violino e dizem que sou uma boa cantora de fado!