O Jornalismo reforçou a sua importância em contexto da pandemia e constituiu uma “arma eficaz” no combate contra a COVID-19. As conclusões são de uma equipa de investigação do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, Universidade do Minho, Universidade de Coimbra e Universidade Católica Portuguesa.
O grupo analisou cerca de três mil notícias publicadas durante as vagas pandémicas que assolaram Portugal. Os resultados indicam que cobertura noticiosa foi “muito intensa” na primeira vaga, tendo-se antecipado e “contribuído para orientar o comportamento dos cidadãos no sentido de se protegerem”.
Este trabalho mostra, porém, que “o jornalismo aliviou a pressão noticiosa na segunda vaga e demorou a arrancar com a mesma força com que o fez em março de 2020 quando o quadro epidemiológico começou a agravar-se em janeiro de 2021”. Quando as notícias são contabilizadas, percebe-se que “o número de notícias sobre a COVID-19 publicadas na primeira vaga foi três vezes maior do que na terceira vaga, num período equivalente”.
Durante os períodos em estudo, o Jornalismo também auscultou mais fontes. O Governo centra a comunicação sobre a gestão da pandemia, nos períodos de maior tensão (12,3%). O Primeiro-Ministro ocupa o lugar de maior evidência (2,7%). Seguem-se-lhe três ministras – a da Saúde, a da Presidência e a da Segurança Social e Trabalho. Só depois surgem os Ministros da Educação e da Saúde.
Entre as fontes que ganharam terreno estão os profissionais e os especialistas. As fontes oficiais são as mais ouvidas quando o assunto é COVID-19 (com resultados que oscilam entre os 22 e o 29%), mas os profissionais de diferentes áreas e os especialistas ganharam uma nova força e quase rivalizam com as primeiras (com taxas entre os 20 e os 25%, se se atender apenas aos que possuem um cargo.
“É importante saber manter estas fontes no espaço mediático após sairmos da pandemia. Elas contribuem para a qualidade do Jornalismo e mostraram ter respostas que a Política e as fontes oficias não detêm”, adita Olga Magalhães, investigadora do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.
Os temas mais mediatizados também sofreram alterações. Na primeira vaga, para além dos retratos epidemiológicos, “as notícias focaram sobretudo temas de índole social (21%), nomeadamente em torno do trabalho e da educação. Contudo, na segunda vaga, os holofotes mediáticos escamotearam os temas sociais (7%) e voltaram a focar-se na política nacional (20%)”.
A segunda vaga foi também “mais rica em notícias sobre investigação médico-científica, sobretudo por causa das expectativas em torno dos ensaios clínicos das vacinas contra o Sars-Cov-2 (9%)”. Já a terceira vaga foi “marcada por um noticiário particularmente negativo, que se debruçou sobre os Retratos de Situação (23%), nomeadamente no que concerne à contagem de mortos por COVID-19. Dentro dos temas sociais (17%), a educação volta a ganhar espaço noticioso”.
O estudo faz parte de um projeto de investigação mais alargado, que visa analisar a Comunicação de Saúde sobre Covid-19 em Portugal. Para além de Olga Magalhães (CINTESIS), integram a equipa Felisbela Lopes (U.Minho), coordenadora do estudo, Rita Araújo (U.Minho), Clara Almeida Santos e Ana Teresa Peixinho (U.Coimbra) e Catarina Duff Burnay (U.Católica Portuguesa).