“Envelhecimento: Desafios atuais para o bem-estar global” foi o título do workshop coorganizado pelo CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, no âmbito do Encontro Ciência 2024, que decorreu na Alfândega do Porto, entre os dias 3 e 5 de julho.

A iniciativa, da responsabilidade do Laboratório Associado RISE, teve como objetivo “discutir os desafios atuais do envelhecimento” e “identificar as oportunidades de investigação para promover a saúde e o bem-estar global”.

Os desafios da longevidade avançada, o papel da prevenção no envelhecimento saudável, a terapêutica no idoso e a transformação digital na saúde foram alguns dos temas abordados neste workshop, que contou com a presença de Fernando Schmitt, coordenador do RISE e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), e com a moderação de Elisa Keating (CINTESIS@RISE/FMUP).

A Paulo Santos, Fernando Osório e Luís Azevedo, do CINTESIS@RISE/FMUP, e a Óscar Ribeiro, do CINTESIS@RISE/Universidade de Aveiro, juntaram-se Isabel Miranda, da Unidade de Investigação e Desenvolvimento Cardiovascular (UnIC@RISE) e Ana Carina Pereira, do Centro de Investigação do Instituto Português de Oncologia do Porto (CI-IPOP), das outras duas Unidades coorganizadoras.

Considerado uma referência no estudo do envelhecimento e coordenador do projeto PT 100 sobre os centenários portugueses, Óscar Ribeiro focou-se nos principais desafios da longevidade avançada. Em linha com os objetivos da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), propôs, desde logo, uma mensuração desta população de cinco em cinco anos, sobretudo a partir dos 80 anos e até aos supercentenários (acima dos 110).

Para o investigador, é preciso “revisitar” os modelos e as “imagens estereotipadas”, combater o idadismo e priorizar o bem-estar. Dados dos seus estudos mostram, por exemplo, que a maior parte desta população requer algum tipo de apoio em tarefas básicas como vestir-se, tomar banho, subir escada ou deslocar-se. Com a idade aumenta a igualmente a probabilidade de défices cognitivos e de demência.

Também Paulo Santos referiu dados da investigação que vem desenvolvendo nesta área, nomeadamente sobre o peso da solidão entre os mais velhos, particularmente acima dos 80 anos.

O investigador CINTESIS@RISE acredita que, perante a inevitabilidade da doença, é preciso apostar na educação, na literacia e na prevenção, o que, na prática, significa melhor prescrição, diagnóstico precoce de fragilidade e mais inovação, apelando ao papel do setor social, dos municípios e da estrutura política.

Um “tsunami cinzento” é como Fernando Osório classifica a incidência de cancro nos idosos. O investigador CINTESIS@RISE/FMUP alertou para a sub-representação dos mais velhos nos ensaios clínicos, o que resulta na falta de evidência científica nesta área e, logo, a tratamentos inadequados. O subtratamento é mesmo uma das formas de idadismo que mais o preocupa.

Para o médico do Centro da Mama da ULS São João, urge contrariar o “dogma” de uma biologia tumoral menos grave nos idosos. Defende, por isso, a aposta na oncogeriatria e na avaliação geriátrica global, que inclua a situação social e familiar de cada indivíduo. A hospitalização domiciliária poderá ser uma forma de diminuir o risco de deterioração cognitiva associado ao internamento nestas idades, como demonstrou um estudo-piloto que realizou.

Por sua vez, Luís Azevedo, do CINTESIS@RISE/FMUP, incidiu o seu discurso sobre os desafios e oportunidades da transformação digital para o acompanhamento da pessoa idosa com doença crónica, com o desafio da qualidade de vida em vez da quantidade de vida.

O investigador considera que a saúde digital será a chave para empoderar os doentes e dar capacidade de resposta aos profissionais, com consequências nos resultados em saúde. Alguns dos desafios desta mudança de paradigma estarão, segundo disse, em aspetos como a qualidade dos dados e as iniquidades no acesso.

O microbioma no acidente vascular cerebral do idoso foi o tema da intervenção de Isabel Miranda, enquanto Ana Carina Pereira abordou os avanços no diagnóstico precoce do cancro.

Conduzido por Elisa Keating, o workshop não chegaria ao fim sem uma discussão animada à volta de assuntos como a criação de uma especialidade de Geriatria, com Paulo Santos a defender o modelo atual (uma competência da Ordem dos Médicos), a programação fetal no contexto do envelhecimento, a “fragilidade social” e a “desproteção dos idosos”. Como sublinhou Óscar Ribeiro, “não é sobre como lá chegar, mas em que condições”.

Considerado o maior evento anual de Ciência e Inovação em Portugal, o Encontro Ciência 2024 teve como mote +Ciência para Uma Só Saúde e Bem-Estar Global. A organização foi da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, U.Porto e Ciência Viva.