Elisabete Martins é investigadora do grupo de investigação CardioCare – Ciências Cardiovasculares, do CINTESIS, no polo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), onde é Professora Auxiliar com Agregação. Em abril deste ano, foi escolhida para coordenar o Grupo de Estudo de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC). Uma eleição que é também o reconhecimento do trabalho que tem desenvolvido, nas últimas décadas, nesta área.

Nasceu no Porto, em 1972. Em criança, queria ser veterinária, mas optou por ser médica. Entrou na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em 1990, tendo concluído o curso em 1996. Começou a dar aulas quando era interna. Concluiu a especialidade de Cardiologia em 2004.

“A Cardiologia estava no meu leque de possibilidades, juntamente com a Anatomia Patológica. Arrisquei a especialidade mais clínica”, recorda.

No Hospital de Vall’Hebron, em Barcelona, fez estágio em Cardiologia Nuclear, uma área que usa exames de Medicina Nuclear para o diagnóstico de várias doenças cardíacas, designadamente doenças das coronárias e do miocárdio. Esta é uma das suas áreas de eleição até hoje, quer na clínica, quer na investigação.

Elisabete Martins fez Mestrado em Medicina e Oncologia Molecular na FMUP, na área da Genética Molecular, motivada pelo trabalho que começou a realizar, ainda no internato, na área da insuficiência cardíaca, com José Silva Cardoso, atual Investigador Principal (PI) do grupo CardioCare, do CINTESIS/FMUP. Em 2010, concluiu o doutoramento e prosseguiu a investigação com um trabalho multicêntrico, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), sobre vários casos de miocardiopatia dilatada genética. O Estudo Português de Miocardiopatias Dilatadas Familiares (FATIMA) marcaria a sua carreira.

Entre os projetos que tem em mãos destacam-se o estudo F-Check, que tem como objetivo o rastreio de doença de Fabry em doentes com miocardiopatias “idiopáticas”, e o CARPOS, que visa o rastreio de amiloidose cardíaca em doentes que são submetidos a cirurgia da síndrome do canal cárpico. Além disso, é investigadora noutros estudos, incluindo ensaios clínicos.

Exerce a sua atividade de cardiologista no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), onde tem consulta dedicada às doenças do miocárdio e cardiogenética.

“É importante conciliar estas áreas (a docência, a investigação e a clínica), mas não é muito fácil. O nível de exigência é grande. Isto só funciona quando temos equipas que se entreajudam nas diferentes atividades”, remata.

Ambição a 1 ano?

Uma das minhas ideias é criar uma plataforma nacional colaborativa dedicada à investigação da insuficiência cardíaca. O objetivo desta plataforma é facilitar a implementação de estudos da iniciativa do investigador, de carácter multicêntrico, e a angariação de financiamento. Esta plataforma deverá ser mais expedita e muito vocacionada para a investigação. Assim poderemos ser mais competitivos. Somos um país pequeno, temos de nos unir.

Quero também promover os registos de insuficiência cardíaca que já estão em curso no âmbito da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, estabelecer ligações com outras Especialidades, nomeadamente com Medicina Geral e Familiar, realizar reuniões multidisciplinares centradas no cuidado multifacetado do doente com insuficiência cardíaca, promover as boas práticas e contribuir para chamar a atenção da tutela para as diversas dificuldades com que nos deparamos atualmente.

Ambição a 10 anos?

Tenho muitas ideias para continuar a investigação em doenças do miocárdio, que são uma das causas de insuficiência cardíaca. Há muitas aspetos que precisamos de esclarecer e temos cada vez mais ferramentas para o fazermos, quer em termos de Genética, quer de Imagem Cardíaca. O meu objetivo é, aos poucos, ir desbravando os mecanismos fisiopatológicos e perceber a heterogeneidade clínica. Tenho muita vontade e curiosidade. Falta ver se há condições financeiras e equipas motivadas. Não se consegue fazer nada sozinho.

O meu sonho é poder, no CINTESIS e na FMUP, colaborar para a melhoria das condições de investigação na área da cardiologia clínica, promovendo o desenvolvimento otimizado da atividade clínica, da investigação e da docência.

Que vida para além da docência, da clínica e da investigação?

Gosto de passar algum tempo livremente, dependendo da ocasião e da companhia.