É uma referência na área do envelhecimento ativo e saudável e faz parte da Unidade RISE-Saúde, que teve origem no CINTESIS e está sediada na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Elísio Costa nasceu há 53 anos em Lever, Vila Nova de Gaia, onde cresceu e estudou. Entre 1989 e 1992, estudou Análises Clínicas e Saúde Pública (atualmente Ciências Biomédicas Laboratoriais) no Instituto Politécnico do Porto (IPP), tendo trabalhado durante 12 anos no extinto Hospital Pediátrico Maria Pia, mais concretamente no serviço de Hematologia/Banco de Sangue, com forte incidência no estudo das patologias eritrocitárias (anemias).

“Adorei essa fase da minha vida profissional. Foi uma altura de muita aprendizagem e motivação. Estávamos a implementar metodologias de diagnóstico de patologias hematológicas não oncológicas, nomeadamente patologias hereditárias relacionadas com o eritrócito”, recorda.

Com a extinção iminente do hospital, o passo seguinte levou-o à Faculdade de Medicina da Universidade do Porto para fazer o Mestrado em Medicina Molecular e Oncologia, que concluiu em 2005 com uma tese sobre “Síndromes de Gilbert e Crigler-Najjar: análise mutacional e relação genótipo/fenótipo”. Seguiu-se o Doutoramento em Bioquímica pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, onde investigou “Resistência à terapêutica com Eritropoietina Humana Recombinante em doentes em Hemodiálise” (2005-2009).

Depois de quatro anos em que conciliou o doutoramento com a docência na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança, surgiu a oportunidade de regressar ao Porto.

“Depois de quatro anos em Bragança, estava um pouco cansado de viajar. Tenho muito boas recordações do trabalho, da escola e dos alunos, mas sou mais citadino”, confessa.

Passou mais quatro anos no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, onde leccionou e coordenou cursos de formação pós-graduada. Há 12 anos, tornou-se professor auxiliar da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, onde se mantém até hoje.

Como investigador, deu os primeiros passos ainda no Hospital Maria Pia, sobretudo com estudos de casos clínicos. As suas primeiras publicações remontam a essa altura. Foi a partir de 2013, após o doutoramento e através da sua participação na Parceria Europeia para o Envelhecimento Ativo e Saudável (EIP em AHA) e em vários dos seus Grupos de Ação, que começou a desenvolver “trabalho colaborativo” e investigação em envelhecimento e, mais recentemente, na área da saúde digital.

Em 2016, esteve na origem do Porto4Ageing – Centro de Competências para o Envelhecimento Ativo e Saudável/Universidade do Porto, um consórcio regional e Local de Referência para o Envelhecimento Ativo e Saudável, envolvendo decisores, academia, representantes da sociedade civil e empresas (a chamada “quadrupla hélice”). Em 2018, integrou o EIT-Health (European Institute of Innovation & Technology), coordenando até hoje o “Hub” deste instituto na Universidade do Porto e financiando atividades específicas, como programas de aceleração de startups, formação em empreendedorismo e inovação e promoção da interação entre a academia e o mercado da saúde.

Em retrospectiva, Elísio Costa sublinha que “o Porto4Ageing teve um grande impacto na sensibilização para a questão do envelhecimento ativo e saudável e permitiu que as pessoas que trabalham na área se conhecessem e colaborassem”. Por outro lado, com o EIT-Health, “contribuímos para a mentalidade de inovação e empreendedorismo em saúde no ecossistema do norte do nosso país”.

Mais recentemente, em 2024, integrou a nova Unidade de Investigação formada pelo CINTESIS, UnIC, MedInUP e CICS-UBI. “Aderi pela necessidade de estar entre investigadores com os mesmos objetivos e aspirações. O RISE-Health é muito forte na investigação e inovação no domínio do envelhecimento e da saúde digital. Para mim, fazia todo o sentido juntar-me a um grupo onde existe massa crítica nesta área”, explica.

Quanto ao futuro, diz que há muito a fazer no desenvolvimento e disponibilização de soluções, produtos e serviços inclusivos que dêem respostas inovadoras aos problemas e contribuam para “uma vida ativa e saudável” – porque “o envelhecimento não tem faixa etária, é um processo que faz parte do ciclo de vida”.

Para Elísio Costa, “em Portugal, continuamos a ter um problema de acesso. Continuamos a ser um país pobre, com níveis de escolaridade muito baixos, sobretudo entre a população mais idosa. Os últimos anos de vida ainda são vividos com uma qualidade de vida muito baixa. Temos poucas infraestruturas para apoiar os idosos. A área social é muito mal financiada, está muito dependente do financiamento do Estado. É preciso dinheiro para envelhecer com dignidade”.

Continuamos a investir recursos nas mesmas soluções em que investimos há 10 ou 15 anos. Não podemos ficar presos às soluções do passado. E continuamos a ter os mesmos problemas, que tendem a agravar-se. Na população portuguesa, o grupo etário com mais pessoas tem entre 45 e 50 anos. Daqui a 20 anos, estarão entre os 65 e os 70. Vamos ter uma percentagem maior da população para cuidar”.

É por isso que “há um longo caminho a percorrer”. A solução consiste em “olhar para o problema, acima das questões partidárias, repensar e implementar medidas inovadoras”. Porque “uma sociedade que não tem capacidade para cuidar dos seus idosos é uma sociedade que não tem futuro”.

Ambição a 1 ano?

Tenho vários projetos focados sobretudo no apoio ao ecossistema de inovação e à criação de novas soluções, produtos e serviços para o mercado, com base nas necessidades e preferências dos vários intervenientes, como os profissionais de saúde e os doentes. Um dos projetos em curso é o INNO4LIFE, uma iniciativa que vai criar um “living lab” transfronteiriço (Norte de Portugal – Galiza) onde empresas e grupos de investigação podem validar as suas ideias e/ou tecnologias inovadoras em contexto real, com especial enfoque nas demências.

Ambição a 10 anos?

Gostaria de consolidar este laboratório vivo transfronteiriço e alargá-lo a outras áreas para apoiar as startups e as empresas no desenvolvimento eficaz de produtos e serviços, acelerando a sua transposição para o mercado. Ao mesmo tempo que melhoramos a qualidade de vida dos doentes, estaremos a dinamizar a economia. As universidades não podem ficar de fora deste processo, não se podem distanciar do mundo real, sob pena de se tornarem meras fornecedoras de certificados e diplomas.

Que vida para além da investigação e da docência?

Gosto muito de passear, de dar passeios e de passar tempo com os meus amigos.