Os estudantes universitários portugueses com menos literacia em saúde mental estão mais vulneráveis psicologicamente do que os colegas que têm conhecimentos nesta matéria. Um estudo de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da ESEP – Escola Superior de Enfermagem do Porto publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health incidiu sobre estudantes de diferentes instituições e cursos do Ensino Superior do Continente e Ilhas, tais como Educação, Artes, Turismo, Arquitetura e Comunicação.
Ao todo, 3189 alunos com idade média de 24 anos responderam a questões que visavam avaliar a saúde mental positiva, a vulnerabilidade psicológica e a literacia em saúde mental. Foram analisados também fatores como a satisfação pessoal, o autocontrolo, a autonomia, a capacidade de resolução de problemas e as competências nos relacionamentos interpessoais.
Os resultados deste trabalho mostram que os estudantes universitários com mais literacia em saúde mental são também os que apresentam mais saúde mental positiva, o que vem confirmar a associação entre conhecimento e possibilidade de tomar medidas que melhorem a própria saúde mental e a dos outros.
“Esta associação pode ser explicada pela desmistificação do estigma que a saúde mental ainda carrega e que constitui uma barreira a um eventual tratamento. Pelo contrário, um maior conhecimento prepara os jovens para lidarem com as mudanças que ocorrem ao longo da vida, tornando-os menos vulneráveis do ponto de vista psicológico”, explica o investigador.
De acordo com este mesmo estudo, a esmagadora maioria dos alunos do Ensino Superior apresenta níveis altos ou médios de saúde mental positiva, mas os estudantes do sexo masculino reportam maior satisfação pessoal e autonomia nesta área. Por outro lado, a maior parte dos estudantes com baixos níveis de saúde mental positiva é do sexo feminino. “Estas diferenças entre satisfação pessoal e autonomia entre homens e mulheres devem ser exploradas no futuro”, afirma Carlos Sequeira, a propósito destes dados.
Os autores observaram igualmente níveis mais baixos de saúde mental positiva em alunos com bolsa de estudos, sendo que o “suporte social” é claramente “um fator protetor essencial”. Por sua vez, os estudantes universitários deslocados da sua casa/área de residência têm piores resultados neste domínio, especificamente no que se refere ao autocontrolo. “As pessoas que estudam numa nova cidade podem não dispor dos recursos e de uma rede familiar de suporte”, indica.
Os investigadores concluem lembrando que a identificação de grupos vulneráveis e a implementação de estratégias de promoção da saúde mental positiva são fundamentais em contexto escolar, com o envolvimento de profissionais de saúde tais como enfermeiros, psicólogos, psiquiatras, entre outros.
Esta investigação teve financiamento do CINTESIS e da Associação Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (ASPESM). A autoria é dos investigadores do CINTESIS Sónia Teixeira (primeira autora), Carlos Sequeira (investigador principal do grupo NursID), Regina Pires, José Carlos Carvalho, Isilda Ribeiro, Carolina Sequeira, Teresa Rodrigues, Francisco Sampaio e Tiago Costa, juntamente com Carme Ferré-Grau (Universitat Rovira y Virgili Tarragona) e Maria Teresa Luch i Canut (Universidade de Barcelona), de Espanha.
Foto: https://unsplash.com/@element5digital