Uma equipa de investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) alerta para a necessidade de os pacientes com gastrite serem vigiados de 3 em 3 anos, como forma de prevenir a evolução desta doença para cancro gástrico. A recomendação já tinha sido feita por sociedades científicas nacionais e internacionais, mas faltava informação relativamente aos custos que a aplicação desta medida acarretaria para os Sistemas de Saúde. Agora, os mesmos investigadores acrescentam que o custo associado a esta política de Saúde Pública é de pouco mais de 18 mil euros por ano de vida salvo, sendo assim considerado comportável pelo Sistema Nacional de Saúde.
Miguel Areia, investigador do CINTESIS e clínico no IPO de Coimbra, sublinha que “o cancro gástrico representa um problema de saúde a nível global. As elevadas taxas de incidência e de mortalidade desta patologia fazem dela o quinto tumor mais comum e a terceira causa de morte por cancro. Em Portugal, este tipo de cancro é especialmente prevalente na zona Norte do país, afetando 13 por cada 100 mil habitantes – um nível muito acima dos padrões europeus.
Porque é que há mais cancro gástrico no Norte de Portugal? De acordo com o especialista, há fatores ambientais que contribuem para esta realidade, nomeadamente o consumo excessivo de sal, de fumados e os hábitos tabágicos. Há ainda uma componente genética que não deve ser esquecida. Acresce que 80% dos portugueses estão infetados pelo Helicobacter pylori – uma bactéria que se instala no estômago podendo, com o decorrer dos anos, facilitar o aparecimento de doenças do foro digestivo. “E entre a população do Norte de Portugal encontram-se níveis elevados de Helicobacter logo aos 20 anos de idade”, esclarece o gastrenterologista, que recorda que é mais tarde, sobretudo depois dos 50 anos, que os sintomas gástricos se manifestam.
“A maioria dos casos está relacionada com infeção por Helicobacter pylori e outros agentes ambientais e, portanto, a incidência aumenta com a idade. Devido ao envelhecimento das populações, nomeadamente em Portugal, estima-se que a incidência e a mortalidade associadas a cancro gástrico aumentem nos próximos 20 anos”, nota Mário Dinis-Ribeiro, líder do grupo de investigação em cancro do estômago do CINTESIS e médico no IPO do Porto.
O cancro do estômago pode ocorrer após vários anos de progressão de uma condição benigna como a gastrite. A endoscopia é o primeiro exame a ser efetuado para o diagnóstico destas condições pré-malignas que devem ser avaliadas e graduadas, sendo que só as mais severas têm necessidade de ser seguidas. “Os médicos devem ser ensinados a fazer esta triagem de forma eficiente para se garantir de que os doentes em maior risco são, efetivamente, vigiados de mais perto”.
A endoscopia digestiva alta é o procedimento de eleição para diagnosticar as doenças do sistema digestivo que envolvem o esófago, o estômago e o duodeno. É um método disponível na maioria das instituições de saúde, preciso e relativamente pouco invasivo, mas “os seus custos de utilização impedem que seja adotado como ferramenta de triagem para o cancro gástrico na maioria dos cenários clínicos”.
Para além de Miguel Areia e Mário Dinis-Ribeiro, o trabalho contou com a colaboração de Francisco Rocha Gonçalves, investigador do CINTESIS e membro do IPO do Porto.