A dor aguda provocada por um trauma, em resultado de acidentes rodoviários, quedas ou explosões, por exemplo, está longe de ser a única queixa das vítimas assistidas pelas equipas de pré-emergência hospitalar. Nestes doentes, o frio, o medo, a ansiedade e a imobilização estão fortemente associados com a intensidade da dor.
Um estudo assinado por investigadores do CINTESIS/Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) analisou, ao longo de 14 meses, um total de 605 vítimas de trauma, na maioria homens, com idades entre os 18 e os 96 anos
O objetivo era avaliar a relação entre a intensidade da dor e o desconforto provocado por outros tipos de sofrimento, físico e psicológico, em doentes considerados críticos, excluindo os que estavam sob a influência de álcool ou drogas ou que apresentavam alteração do estado de consciência. Os acidentes de trânsito e as quedas foram as principais razões dos ferimentos (40,7% e 37%, respetivamente).
Os resultados indicam que cerca de 90% das vítimas reportavam algum grau de dor decorrente dos ferimentos sofridos, dos quais 47,1% reportavam dor severa; 39% queixavam-se de desconforto causado pelo frio, 49,8% demonstravam ansiedade e 15,7% apresentavam sinais de medo.
“Este trabalho mostra uma relação direta entre a intensidade da dor e o nível de desconforto causado pelo frio, o que significa que os doentes que sentem mais frio têm tendência a reportar níveis mais elevados de dor”, explica Mauro Mota, investigador do CINTESIS. Como refere, a hipotermia (descida da temperatura do corpo) é comum nas vítimas de trauma, sendo, desde logo, um fator de risco para uma maior mortalidade.
Foi igualmente aferida uma relação direta entre a dor e o medo reportados pelos doentes críticos assistidos no pré-hospitalar. De facto, as vítimas de trauma que apresentaram sinais de medo e/ou de ansiedade tiveram também níveis significativamente mais elevados de dor, quando se comparava com vítimas sem estas manifestações clínicas do foro psicológico/emocional.
A imobilização revelou ser “um determinante claramente associado a maiores níveis de dor entre as vítimas”, continua Mauro Mota. Ao todo, 78,3% das vítimas tiveram de ser imobilizadas. Esta intervenção visa reduzir os movimentos, proteger as estruturas anatómicas e minimizar o risco de novas lesões.
Em conclusão, “as vítimas de trauma com ansiedade, medo e desconforto causado pelo frio têm maior tendência a reportar níveis superiores de dor”. Para Mauro Mota, “é necessário compreender de que modo a dor e outros fatores presentes no trauma se relacionam, de modo a diminuir a dor. Tratar apenas a dor, separadamente, pode não ser suficiente. É essencial identificar estratégias para reduzir todas as fontes precipitantes de desconforto e sofrimento”.
Publicado na revista científica International Emergency Nursing, o estudo tem como autores, além de Mauro Mota, a investigadora Margarida Reis Santos, do CINTESIS/Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP), e outros investigadores de outras instituições do país, nomeadamente Filipe Melo (Centro de Competências de Envelhecimento Ativo), Mariana Monteiro (Santa Casa da Misericórdia de Seia), Miguel Castelo-Branco (Universidade da Beira Interior), Carla Henriques, Ana Matos e Madalena Cunha (Instituto Politécnico de Viseu).