Dificuldades para investir numa prática mais centrada na pessoa, menos tempo para planear cuidados e fragilidades na cultura de segurança dos doentes foram alguns dos impactos da COVID-19 na prática de Enfermagem.

Estas são algumas das conclusões de um estudo nacional sobre o impacto da COVID-19 nos ambientes da prática profissional de Enfermagem no contexto hospitalar, realizado por investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP).

Os investigadores constataram que a pandemia teve “um impacto positivo nas condições estruturais dos ambientes da prática profissional, nomeadamente no que se refere à disponibilização de materiais, equipamentos clínicos e tecnologias de informação e comunicação”.

Por outro lado, este grupo assinala uma “tendência negativa” nos processos, isto é, em fatores relacionados com a conceção e a prestação de cuidados de Enfermagem.

Perante a falta de enfermeiros e a elevada carga de trabalho, 60% dos enfermeiros assumem que a sua prática profissional esteve centrada “sempre” ou “muitas vezes” na gestão de sinais e sintomas da doença, o que poderá traduzir-se num “retrocesso” da individualização dos cuidados, em que o foco são as pessoas.

Ao todo, 76% dos enfermeiros também assinalaram como escasso o tempo para “planear, avaliar e reformular os cuidados”, mas, em contrapartida, 83% avaliaram positivamente a “colaboração e trabalho em equipa”, sendo esta uma das áreas mais fortes.

Entre os pontos mais frágeis, assumidos em média por 75% dos enfermeiros, estão “o número insuficiente de enfermeiros e enfermeiros especialistas face ao número de doentes e às suas necessidades, a falta de envolvimento dos enfermeiros nas políticas, nas estratégias e no funcionamento das instituições e problemas na cultura de segurança dos doentes, o que aponta para “a necessidade de um investimento emergente nestas áreas”.

Olga Ribeiro, investigadora do CINTESIS/ESEP e coordenadora do projeto “Positive Professional Environments4Nursing Pratice”, considera que “é hora de investir no envolvimento e sentido de pertença dos enfermeiros às instituições, de criar condições para a sua qualificação profissional, de reconhecer e valorizar as suas competências e o papel que desempenham nas equipas de saúde”.

Além disso, refere a responsável, é urgente “definir uma política de incentivo à inovação e à investigação em Enfermagem, adotando, por exemplo, como estratégia o estabelecimento de parcerias entre o contexto académico e clínico”.

Desta forma, entende que “se promoverá a melhoria da qualidade e segurança dos cuidados prestados, numa altura em que se fala na recuperação das atividades assistenciais não relacionadas com a COVID-19”.

Este trabalho de investigação conta ainda com a participação dos investigadores do CINTESIS/ESEP Clemente Sousa, Maria Filomena Cardoso e Ana Reis, tendo enfermeiros de diversos hospitais nacionais como parceiros.