Febre, tosse, fadiga e falta de ar, mas também sensação de formigueiro, dor abdominal, náuseas, vómitos, irritabilidade e confusão. Estes são alguns dos sintomas de infeção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) identificados numa revisão realizada por investigadoras da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.
“O nosso objetivo era descrever os sintomas dos doentes com COVID-19 e as doenças associadas à infeção pelo novo coronavírus”, explica Matilde Monteiro-Soares, que coordenou este estudo, já publicado no MedRxiv.
As investigadoras analisaram estudos que incluíram milhares de doentes com COVID-19 registados em vários continentes, incluindo Ásia, América e Europa. Os doentes tinham idades compreendidas entre os 28 e os 70 anos.
Ao todo, foram encontrados 30 sintomas associados à COVID-19. O sintoma mais reportado é a febre, seguindo-se a tosse, a falta de ar e a fadiga. A dor muscular e a dor de garganta são também comuns, sendo referidas em até 65% dos casos. Falta de apetite, arrepios, tontura, dor de garganta, sintomas gastrointestinais (gastrite, dor abdominal, diarreia, náusea e vómitos) e irritabilidade são outros sintomas descritos.
A equipa portuguesa contabilizou ainda um total de 35 doenças concomitantes. A doença cardiovascular, a hipertensão e a doença cerebrovascular são as mais frequentes. Nos EUA, a comorbilidade de base mais relatada é a doença renal crónica, seguida da insuficiência cardíaca, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e apneia obstrutiva do sono.
“Concluímos que a COVID-19 pode afetar as pessoas e assumir manifestações clínicas muito diversas. Os sintomas são, de forma geral, inespecíficos e muito variáveis. Observámos desde casos assintomáticos a situações com vários sintomas concomitantes”, afirmam as investigadoras do CINTESIS e FMUP.
De acordo com as autoras, a proporção de doentes sem sintomas varia entre 25% e 75%. “Este dado reforça a importância de testar e de isolar as pessoas que possam estar infetadas, embora assintomáticas”, sublinham Matilde Monteiro-Soares, Daniela Ferreira-Santos e Priscila Maranhão.
A identificação de características comuns, como o perfil sociodemográfico, os sintomas e a presença de doenças concomitantes, poderá agora ajudar a criar um modelo preditivo do risco de ter COVID-19, contribuindo para a definição de estratégias de rastreio e de terapêutica num futuro próximo.