“A Saúde vai europeizar-se, vai tornar-se uma política europeia. O preço dos medicamentos inovadores, a investigação e os dados vão puxar a saúde para o nível europeu”, afirmou a eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques, na reunião “(Re)utilização de dados em investigação e inovação em saúde”, organizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), em colaboração com o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) e com o CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.
A eurodeputada considerou que “os dados são o hidrogénio da saúde” e que a Europa irá caminhar no sentido da criação de uma infraestrutura de dados de saúde a nível europeu (o “European Health Data Space”). Na sua opinião, um dos principais desafios da Europa será dar aos seus investigadores dados que lhes permitam concorrer com a China, que não tem proteção de dados, e com os EUA, que seguem regras de mercado, a nível de investigação e inovação, criando um modelo regulado próprio. Para isso, será preciso democratizar o conhecimento e fazer o “upskilling” de todos os cidadãos nesta área, sem deixar ninguém para trás, sob risco de gerar desconfiança ou mesmo rejeição às tecnologias. Para a eurodeputada, os dados de saúde irão transformar o hospital do futuro, no qual os profissionais terão mais tempo para a prática de uma medicina personalizada, o que também mudará a forma como se ensina Medicina.
Presente na sessão de abertura do evento, que contou com cerca de 350 participantes, o vice-reitor da Universidade do Porto Pedro Rodrigues aplaudiu a iniciativa da FMUP e do CINTESIS ao debaterem este tema “central”. O subdiretor da FMUP, Francisco Cruz, classificou esta área como incontornável e António Soares, do CINTESIS, considerou que se trata de “um desafio europeu e mundial”, recordando o contributo desta Unidade para que esta área temática fosse considerada prioritária em Portugal.
O presidente do Conselho de Administração do CHUSJ, Fernando Araújo, considerou que estamos perante “um processo disruptivo” e “com enorme potencial de resolver problemas de saúde”. Segundo o responsável, o CHUSJ e a FMUP estarão na linha da frente deste “mundo novo”, cujo impacto será “brutal”, permitindo “melhorar a qualidade de vida dos doentes” e, ao mesmo tempo, reduzir as despesas do sistema.
Também João Fonseca, professor da FMUP, investigador do CINTESIS e responsável pela iniciativa, considerou que os dados de saúde têm sido subaproveitados e que a sua utilização em investigação e inovação poderá contribuir para melhores decisões, melhores políticas de saúde e maior sustentabilidade do sistema. Quanto aos riscos no acesso, é perentório: “A questão do acesso aos dados de saúde é como a venda de facas. Ninguém limita a venda de facas porque elas podem matar pessoas”.
Nesta reunião foram abordados três grandes temas relacionados com os dados de saúde. Luís Filipe Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), Sofia Silva, da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), e António Gameiro Marques, do Gabinete Nacional de Segurança, discutiram o acesso e a segurança, com moderação de Ricardo Cruz Correia (FMUP/CINTESIS) e de comoderação de Carlos Martins, como o foco a ser colocado na importância da gestão do risco.
A qualidade de dados e a integração de doente de dados foi o segundo tema em debate, com a participação de Ana Luísa Neves (Imperial College/CINTESIS), Henrique Martins (Serviços Partilhados do Ministério da Saúde), Filomena Santos (IQVIA) e Joana Feijó (HCP), moderados por Alberto Freitas (FMUP/CINTESIS) e comoderados por Tiago Taveira-Gomes (FMUP).
O terceiro tema foi a sustentabilidade económica, tendo sido discutido por Filipa Bernardo (AstraZeneca), Cláudia Ricardo (Roche), Luís Rocha (Novartis) e Ricardo Mestre (ACSS), com moderação e comoderação de Francisco Rocha Gonçalves (FMUP) e de Pedro Pereira Rodrigues (FMUP/CINTESIS), respetivamente.
No encerramento, Jorge Félix Cardoso e Pedro Pereira Rodrigues concluíram que existem enormes oportunidades e riscos na utilização de dados, sendo preciso incluir doentes e profissionais de saúde no processo. Os resultados desta “sessão de trabalhos”, que inclui uma análise, serão analisados por um grupo de trabalho criado para o efeito.