Uma equipa de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde alerta os hospitais do Serviço Nacional de Saúde para a existência de falhas no sistema, associadas à qualidade da informação clínica, que podem ser responsáveis pela perda de milhões de euros em financiamento.
De acordo com o estudo agora publicado no Health Information Management Journal, os hospitais públicos poderão sofrer graves consequências a nível de financiamento se não registarem devidamente as comorbilidades dos doentes, isto é, as condições preexistentes ou adquiridas durante o internamento, que influenciam a gravidade dos doentes e os custos.
Júlio Souza, primeiro autor deste estudo, analisou uma base de dados de internamentos no Serviço Nacional de Saúde relativa a seis anos e concluiu que, ao não reportarem corretamente estas comorbilidades, os hospitais não estão a ser devidamente reembolsados pelos seus gastos. O mesmo é dizer que estão a ser subfinanciados.
Além disso, os problemas detetados podem comprometer a reutilização dos dados clínicos de saúde para cálculo de indicadores de qualidade, bem como para gestão clínica e hospitalar e para investigação biomédica.
Para o investigador do CINTESIS, a solução pode passar pela criação de “guidelines” para os profissionais, incluindo os médicos codificadores, que incluam regras claras sobre a forma como proceder à codificação das comorbilidades.
Em Portugal, os pagamentos aos hospitais têm por base os GDH – Grupos de Diagnósticos Homogéneos, “um sistema de classificação de doentes internados que agrupa doentes em grupos coerentes e clinicamente similares do ponto de vista do consumo de recursos”. O sistema começou a ser aplicado em Portugal em 1984 e existe em vários países do mundo.
“Não existe um sistema perfeito, sempre vai haver falhas, mas o sistema de GDH só irá funcionar, só vai haver um financiamento adequado e justo se os dados estiverem bem, se tiverem qualidade, o que nem sempre acontece”, afirma o responsável.
Se alguns hospitais estão a perder dinheiro, a verdade é que outros poderão estar a receber financiamento a mais devido à prática de “upcoding”. Por isso, Júlio Souza alerta para a necessidade de implementar sistemas ou metodologias de deteção automática de discrepâncias na codificação entre hospitais com padrões de complexidade semelhantes, permitindo que os casos suspeitos sejam sujeitos a auditorias para apurar a existência de más práticas.
Este trabalho, assinado ainda João Vasco Santos, Domingos Alves e Alberto Freitas, igualmente investigadores do CINTESIS, integrou-se no projeto NanoSTIMA, financiado pelo Norte 2020.